Vereador de Porto Alegre, Roberto Robaina é candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo Psol. Para Robaina, a participação popular na gestão do estado é importante para garantir o bem comum. “Queremos impulsionar um processo de auto-organização na sociedade. Que a gestão da máquina pública não fique na mão do sistema partidário e muito menos das corporações empresariais”, defende.
Robaina diz que o Psol “não é o PT” e que é importante mostrar “à população que existe outro tipo de esquerda, que não é a esquerda que o PT construiu”. Além disso, ele aposta na cobrança dos valores devidos ao estado pela Lei Kandir, no combate à sonegação e na discussão sobre a dívida com a União como formas de tirar o caixa do estado do vermelho.
Roberto Robaina é o nono entrevistado, por ordem alfabética, nessa série de VEJA com os pré-candidatos ao Piratini. A primeira entrevistada foi Abigail Pereira (PCdoB), o segundo entrevistado foi Eduardo Leite (PSDB), o terceiro foi Jairo Jorge (PDT), o quarto foi Julio Flores (PSTU), o quinto foi Luis Carlos Heinze (PP), o sexto foi Luiz Portella (PMB), o sétimo foi Mateus Bandeira (Novo) e o oitavo foi Miguel Rossetto (PT). Abaixo, a entrevista de Robaina e fotos de arquivo pessoal selecionadas por sua equipe a pedido de VEJA.
Data de nascimento: 29/09/1967
Naturalidade: Porto Alegre
Estado civil: união estável
Cônjuge: Inez Rocha Zacarias
Filhos: Fernando Marcel Genro Robaina
Formação: graduado em História (Ulbra) com mestrado e doutorado em Filosofia (PUC-RS)
Profissão: historiador
Histórico de filiação partidária: PT (1983-2003), saiu quando Luciana Genro foi expulsa por votar contra a Reforma da Previdência proposta por Lula) e Psol (2004)
Por que o senhor quer ser governador?
Nós lutamos para que a população se aproprie da administração, das políticas. Minha candidatura e da Camila Goulart, minha vice, é para construir uma alternativa a essa política tradicional dominada por grandes empresas e esquemas de corrupção ligadas ao sistema partidário, que fazem com que administração do estado, invés de ser para o bem comum, seja para aqueles setores que sempre ganham, com crise ou sem crise. Queremos impulsionar um processo de auto-organização na sociedade. Que a gestão da máquina pública não fique na mão do sistema partidário e muito menos das corporações empresariais que usam esse sistema partidário para se beneficiar. Queremos fazer um estado administrado pela maioria.
Qual será a prioridade do senhor?
Mostrar que se pode fazer um governo diferente. Ser um governo austero que combate o privilégio dos próprios governantes, que hoje são muitos. Os governantes pedem muitos sacrifícios à população, mas não fazem nenhum. Propomos fazer uma redução de salários de secretários, por exemplo, que ganham muito enquanto professores e enfermeiros ganham salário muito baixo, queremos fazer disso um exemplo. Na segurança, queremos dar um sinal político de alteração na política em relação às drogas. É preciso tratar a questão das drogas como uma questão vinculada à educação e à saúde. Atualmente, essa questão é tratada como uma questão policial. O esforço da polícia é mais ligado ao combate ao tráfico ilegal de drogas nas comunidades e, portanto, aumenta o encarceramento de jovens e pobres em detrimento de um trabalho na área da inteligência, no combate aos latrocínios, feminicídios. Queremos que a polícia tenha como foco os crimes que atentem contra à vida.
Como o senhor fará para tirar para tirar o estado da crise e para pagar os salários em dia?
A crise financeira é produto de escolhas que o governo vem fazendo, não só desse governo, mas de anteriores. O enfrentamento da questão da dívida com a União sempre foi fraco. Desde 2006 nós falamos disso. Até nessa gestão houve, pelo menos, o questionamento judicial. Há o tema da Lei Kandir que, desde 1996, se mantém após vários governantes. O Rio Grande do Sul é muito injustiçado com a Lei Kandir, já perdemos 70 bilhões de reais. Há a questão da sonegação, com milhões em dívidas que não são pagas e um combate tímido à sonegação. E esses esquemas de isenção fiscal, da Gerdau, da Coca-Cola, nas indústrias de fumo. Elas não fazem sentido, um estado em crise com renúncia fiscal. Não tem solução fácil, mas é um caminho a ser percorrido.
A segurança é um dos temas que mais preocupam os gaúchos. Quais são as propostas do senhor para a área?
O latrocínio tem muito a ver com intimidar, com a delinquência saber que o crime não vai ser tolerado. A população carcerária está mais vinculada ao tráfico de drogas do que com os homicídios. Isso não faz sentido. Se coloca jovens que faziam comércio de drogas na cadeia, os que são presos são substituídos por outros, o “emprego” vai ter. Esse jovem que vai ser preso e os presídios hoje são dominados por facções. Ele vai entrar em alguma facção e vai se especializar. Vai sair mais perigoso do que entrou. Já temos um quadro de encarceramento em massa muito grande, em 2000 o Rio Grande do Sul tinha cerca de 13.000 presos e hoje tem 40.000 e a segurança piorou. Se só prender resolvesse, então a situação tinha que estar melhor. Queremos mudar isso. Queremos ter uma política de segurança mais voltada à assistência social, à educação e à saúde. Nos casos de crimes contra à vida, uma política mais repressiva.
A esquerda é cobrada por estar dividida e o Psol é cobrado por não aderir a outras candidaturas. O que o senhor pensa sobre isso? A esquerda deveria estar unida?
O PT governou. Agora, que o PT não está no governo diz que tem que unir a esquerda? Isso não corresponde às tarefas que estão postas hoje. O PT tem que fazer um balanço do que fez quando foi governo. Quando governou, o PT não teve preocupação em unir a esquerda, mas se uniu com a direita. Agora que o pacto que eles fizeram com a dieta não está dando certo [querem união]. Repetir os mesmos erros, não dá. Queremos construir uma nova esquerda, que vai ter gente do PT nessa nova esquerda, não tenho dúvida. Mas a prática não pode ser a prática do PT, que levou a uma crise da esquerda, a uma desmoralização da esquerda. As pessoas identificam a esquerda com o PT e nós não somos o PT. Ao contrário, nós saímos do PT porque nós não concordamos com as práticas do PT. Como o PT foi hegemônico, para a sociedade ele é visto como “a esquerda”, então isso que o PT fez de governar para grandes empresários e com esquemas de corrupção levou a um processo de crise. Para que se saia dele é preciso ir demonstrando à população que existe outro tipo de esquerda, que não é a esquerda que o PT construiu.
Qual sua opinião sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)?
A cúpula do PT se envolveu nos esquemas da política nacional e das alianças com as empreiteiras cujo método era esse revelado pela operação Lava Jato. Mas não foi só a cúpula do PT, foi o PSDB, o PP, o PMDB, todo o sistema partidário. Então, não acho correto que o Lula esteja preso, o Temer seja presidente e o Aécio esteja solto. Há uma seletividade. O percentual dele nas pesquisas eleitorais teria que dar a ele o direito de concorrer. Vejo o Judiciário atuando também na política, para tirar o Lula da disputa, isso não acho correto.
O senhor acha que a candidatura do Guilherme Boulos (Psol) pode emplacar?
O Boulos também está cumprindo papel de buscar uma construção de uma nova esquerda. Ele conseguiu organizar o maior movimento de sem-teto no estado de São Paulo. Ele é jovem, tem 35 anos, essa aliança do Psol com o MTST é promissora para ajudar criar uma esquerda ligada aos movimentos sociais. Temos a Sônia Guajajara como vice, primeira vez que um indígena concorre a esse cargo. Ela e o Boulos dão uma boa dupla para mostrar o que queremos.
Na eleição de 2016 para a prefeitura de Porto Alegre, Luciana Genro (Psol) aparecia como líder nas pesquisas eleitorais. Com o início da campanha e o tempo reduzido na televisão, ela não emplacou. Como o senhor lidará com essa questão na sua candidatura?
Esse é o sistema. Ele nos dá pouco tempo de televisão por alguma razão. Essa é a dificuldade que nós temos. Os partidos, em geral fazem as alianças para chegar no poder, quando chegam no poder, governam para o sistema. O sistema está estruturado para não ser mudado. A eleição é um momento de brecha para que a população mostre que não está contente e, assim, avance a ideia de que é preciso quebrar as regras desse sistema. Por isso, quando ocorrem processos de mobilização muito fortes, são momentos em que o sistema treme porque são momentos em que o sistema não controla. Tivemos junho de 2013, que foi o mais importante, mas tivemos a greve dos caminhoneiros, as ocupações das escolas. Nesses momentos, a regra é posta em dúvida: quem controla o sistema, os políticos ou o povo?
A pesquisa do Instituto Methodus mostra o senhor com 3,7% da intenção de votos. Como o senhor avalia esse resultado?
O Sartori ganhou eleição com menos intenção de voto nessa época, ele tinha 3% e eu tenho 3,7%. Temos que trabalhar, construir, é o que fazemos, eu como vereador, os deputados, fazemos trabalhos de base, nos sindicados, nas comunidades.