A lista simplista de Moro sobre práticas éticas
Sergio Moro está perdendo a oportunidade de liderar um movimento por mais transparência nas agendas públicas dos ministros
O ex-juiz e ministro da Justiça Sergio Moro sucumbiu à peer pressure do governo e criou uma conta no Twitter. O ministro mais popular do gabinete de Bolsonaro (59% de aprovação, conhecido por 93% dos respondentes de uma pesquisa Datafolha agora tem uma plataforma para se comunicar diretamente com os cidadãos. É uma boa iniciativa – quanto mais os ministros dizem e escrevem o que pensam, melhor. Ministros como Paulo Guedes, da Economia, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, não fogem de polêmicas. Isso se reflete em suas taxas de conhecimento pela população – Guedes é conhecido por 74% e aprovado por 30%, enquanto 35% conhecem Araújo e 13% consideram seu desempenho “ótimo” ou “bom”.
Diante disso, Moro tem crédito para inovar no ministério e na comunicação com o público.
Mas seus primeiros tweets decepcionam. Em 6 de Abril, lançou uma “campanha interna para reforçar práticas éticas entre os servidores [do Ministério da Justiça e Segurança Pública]”.
São dez mandamentos categóricos (entre parênteses, o número de curtidas recebido por cada mensagem até a tarde de 7 de Abril):
1) Todos somos responsáveis pela integridade, reputação e imagem do Ministério. (11 mil)
2) O combate à impunidade é nosso dever. (12 mil)
3) A transparência é a nossa regra, sigilo é exceção. (12 mil)
4) O Poder público não é um negócio de família. (14 mil)
5) Respeite o colega de trabalho. Trate todos com urbanidade. (12 mil)
6) O interesse público deve sempre prevalecer. (12 mil)
7) Nós não devemos receber presentes ou qualquer outra vantagem pessoal. (14 mil)
8) Se tiver que escolher entre o fácil e o certo, opte pelo certo. (17 mil)
9) A sociedade quer ação do agente público, nunca acomodação. (21 mil)
10) Participe da gestão do ministério. A Ouvidoria é o nosso canal. (21 mil)
São sentenças que qualquer um poderia ter escrito. Alguém discorda, no discurso, de que “o poder pública não é um negócio de família”? Que “o interesse público deve sempre prevalecer”? Ou que entre o fácil e o certo, deve-se optar pelo “fácil”?
As duas frases com algo de substantivo – uma que trata de presentes para agentes públicos, outra que fala do sigilo como exceção – são obviedades que já estão nas leis. E a transparência no ministério (e em outros também) tem muito a ser melhorada.
Dou exemplos. De acordo com a agenda oficial do ministro, na última quinta-feira ele se reuniu às 10h15 com o deputado federal Daniel Freitas (PSL-SC). Sobre o que conversaram? A sociedade não precisa saber todo o conteúdo da conversa, mas seria desejável ter acesso à pauta da reunião. São dois servidores públicos.
Na terça-feira, 2 de Abril, consta um compromisso oficial na agenda do ministro: palestra em um seminário sobre segurança às 13h. Nada além disso. O que mais o ministro fez naquele dia?
Em 6 de março, uma quarta-feira, sua agenda indica apenas “reuniões e despachos internos”. Com quem? Sobre o que?
O ministro faria bem em reler – e seguir – seu terceiro mandamento.
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