Ninguém precisa ter lido o belo livro “Fragmentos de um discurso amoroso”, do francês Roland Barthes, para saber que na boca dos namorados, dos amantes, as palavras ganham características peculiares. Isso se dá em parte por intensificação: um simples “não” tem o poder de escavar abismos dantescos de infelicidade, um mero “sim” pode ser a senha que dá acesso ao paraíso. Mas não é só isso.
Outro traço marcante da linguagem amorosa é a polissemia que faz um “não” querer muitas vezes dizer “sim”. E vice-versa. Trata-se de terreno movediço, perigoso, como sabe qualquer um que já tenha passado horas mergulhado em alguma D.R. (discussão de relação), esse gênero tortuoso de diálogo que, geralmente deflagrado por ninharias, acaba por adquirir a força caudalosa dos grandes épicos.
A linguagem amorosa tem pontos de contato, nesse aspecto, com a dos conspiradores, sobre a qual ninguém escreveu melhor que o russo Fiodor Dostoievski no romance “Os demônios”. Chega um momento, em toda conspiração, em que ninguém mais sabe onde pisa, o que é dito com segundas intenções e o que, tendo sido dito por você de boa-fé, pode ser usado para atingi-lo em algum processo futuro. Cada palavra arrasta uma cauda de conotações imprevisíveis.
Neurótico? Sem dúvida. Faz sentido que seja assim, pois toda história de amor é mesmo uma espécie de conspiração a dois. Mas os amantes levam uma vantagem sobre os conspiradores: eles têm a chance de, percebendo o momento em que as palavras enlouquecem de vez, podendo significar tanto aquilo quanto o contrário daquilo, optar pelo silêncio e deixar que apenas seus corpos falem, sussurrem, gritem. Esses não mentem jamais.
Feliz Dia dos Namorados a todos.