Marcos x Rogério: a rivalidade entre os ídolos nas páginas de PLACAR
Palmeiras e São Paulo se enfrentam nesta quinta-feira pela final do Campeonato Paulista; rixa entre os clubes já envolveu goleiros históricos
O clássico entre Palmeiras e São Paulo, que decide nesta quinta-feira, 20, o Campeonato Paulista de 2021, opõe duas camisas de peso e histórias vitoriosas, marcadas por um duelo histórico de goleiros no início deste século: o alviverde Marcos e o tricolor Rogério Ceni. Amigos fora de campo, campeões mundiais com a seleção em 2002 e idolatrados por suas torcidas, os dois são motivo de acalorados debates até hoje. PLACAR, claro, destacou os personagens e este confronto.
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Nascidos no mesmo ano (1973), Marcos e Rogério conviveram com inúmeras comparações no auge de suas carreiras. O palmeirense estreou como profissional em 1992, aos 19 anos. Rogério debutou no ano seguinte. Pela seleção brasileira, Marcos jogou 29 vezes e foi o titular na conquista do pentacampeonato, enquanto Ceni, seu reserva na Coreia e no Japão, fez 17 jogos como titular. Autênticos, bocudos e fiéis aos seus clubes, os dois foram protagonistas de diversas reportagens.
O primeiro a ser capa da PLACAR foi Ceni, em dezembro de 2000. Na época, o ídolo tricolor havia acabado de assumir o posto de titular da seleção brasileira, então dirigida por Emerson Leão. Em um perfil escrito por Arnaldo Ribeiro (clique para ler na íntegra), Rogério deu diversas declarações fortes (a língua afiada, inclusive, foi destacada em um bloco intitulado “O Caldeirão de Ceni”, uma brincadeira sobre sua semelhança física com o apresentador Luciano Huck, que acabara de estrear seu programa Caldeirão do Huck na TV Globo.
“No futebol brasileiro, quem emite opiniões e discorda da maioria fica tachado como polêmico. É o meu caso e o do Leão”, afirmou Rogério, que ainda fez críticas aos comentaristas da época. “Já vi muitos repórteres jogando bola no CT e eles só dão de canela, não sabem dominar uma bola. Como é que podem te dar uma nota? Não posso ser julgado por alguém sem referência.” Então com 27 anos, o hoje técnico do Flamengo errou feio em algumas previsões. Disse que pretendia jogar mais, no máximo, seis anos (jogaria mais 15) e que nunca seria treinador.
Marcos, por sua vez, estreou na capa em um dos momentos mais duros de sua carreira: em 2003, quando teve de disputar a Série B do Brasileirão. No entanto, a decisão de permanecer no time do coração, mesmo depois de ter conquistado o penta com a seleção brasileira e de ter recebido propostas da Europa, só fez crescer a admiração dos palmeirenses pelo ídolo, a quem chamavam de santo.
“Personagem comum nas vitórias sobre o arquirrival Corinthians na Libertadores, na perda para o Manchester United e no rebaixamento para a segunda divisão, Marcos selou sua canonização para os devotos alviverdes ao abrir mão de jogar pelo Arsenal após a Copa do Mundo”, escreveu Daniel Tozzi naquela edição da revista (clique para ler). Assim como Rogério, Marcos nunca teve papas na língua. “Sou honesto, não me preocupo com o exemplo que estou dando. Se quiser beber uma cerveja, vou beber”, cravou, na entrevista para o perfil.
“Tem gol que todo mundo toma, mas eu tenho que pegar porque eu sou pentacampeão, porque sou São Marcos…sou goleiro, não sou santo porra nenhuma!”
Marcos, a PLACAR, em 2003
Sobrou até para a própria revista, com Marcos dando de ombros para a tradicional premiação de PLACAR. “Até larguei essa bola de prata. Já liderei umas duas vezes seguidas, mas o Palmeiras caia fora e ganhavam de mim”.
Rogério sofreu menos com lesões do que Marcos e teve uma carreira mais longeva, disputando uma Copa do Mundo a mais, em 2006, quando viva excelente fase. No período entre 2005 e 2008, o goleiro tricolor foi um dos melhores do mundo na posição e venceu Libertadores, Mundial, estadual e três Campeonatos Brasileiros. Além disso, nessas quatro temporadas, marcou incríveis 52 gols.
Em abril de 2005, antes mesmo de ser campeão continental e do mundo pelo clube, Ceni foi capa da PLACAR, pois iria se tornar o jogador com mais jogos pelo São Paulo, com 598 partidas; o goleiro encerrou a carreira com mais de 1200 jogos pelo tricolor. Em referência à lealdade de Ceni ao São Paulo, o repórter Diogo Pinheiro escreveu: “Ninguém fica mais tanto tempo em um mesmo clube. Contratos são quebrados, vínculos também. Três anos com a mesma camisa são quase uma eternidade,”
Marcos e Rogério estampariam novas capas em 2007, o primeiro na edição de fevereiro e o segundo na de outubro, novamente debatendo as alcunhas que os caracterizavam: o palmeirense como o “santo” das defesas milagrosas e o tricolor como um “revolucionário”, não só por sua habilidade para na meta, mas também para organizar o time desde a defesa e marcar gols de pênalti e falta.
Após alguns anos de lesões, Marcos fez um excelente início de 2008, conquistando o Paulistão pelo Palmeiras após 12 anos. Rogério, por sua vez, seguia como um dos principais nomes do futebol brasileiro. Era o auge da rivalidade, estampada na capa de PLACAR de setembro de 2008.
A revista, de forma bem humorada, comparava os dois goleiros de 33 anos à época. Com raios-x, tira-teimas, opiniões da crônica e história, debatiam quem era o “melhor”, mas, claro, exaltando as duas carreiras enormes. “Sim, que nos perdoem Victor, do Grêmio, e Fábio, do Cruzeiro, que vivem uma excelente temporada. Ceni e Marcos são os goleiros que todos queriam. Por mais duro que seja para um torcedor de outro clube admiti-lo”, escreveu Rogério Felipini Rezeke, em reportagem sobre os goleiros.
Seis jurados ouvidos por PLACAR, os jornalistas Maurício Noriega, Paulo Vinícius Coelho, Mauro Beting e Paulo Calçade, e os ex-jogadores Müller e Neto, avaliaram os goleiros em seis critérios e o resultado final colocou Rogério à frente, por uma pequena margem, “um nariz”, como definiu a revista.
Naquela edição histórica, Marcos e Rogério responderam às mesmas perguntas e deixaram claro que, apesar de rivais, sempre foram amigos. Ambos lembraram também de Dida, outro reserva do penta, ídolo de outro rival, o Corinthians.
“A convivência com o Rogério, assim como com o Dida, sempre foi muito boa. Goleiro sempre tem muita amizade um com o outro, até torcemos para o outro se dar bem. Na carreira o Rogério foi mais feliz, porque se machucou menos. Mas conseguimos atingir quase os mesmos títulos. Ser comparado ao Rogério é uma coisa fantástica, é um dos grandes goleiros que vi jogar e merece ter tudo o que tem”, disse Marcos.
“Foi muito bacana. Marcos, Dida e eu éramos da mesma idade, nascidos em 1973, e logicamente temos muitas coisas em comum. Só tenho coisas boas para falar do Marcos”, retribuiu Rogério.
Palmeiras e São Paulo se enfrentam nesta quinta-feira, 20, no Allianz Parque, pelo jogo de ida da final do Campeonato Paulista. A partida será transmitida pela Globo, em TV Aberta, pelo SPORTV em canais pagos e pelo serviço de pay-per-view Premiere.