Apple TV+ mira em ‘Black Mirror’ ecológico com a série ‘Extrapolations’
Produção com estrelas hollywoodianas imagina um futuro transformado pelas mudanças climáticas — e faz uma previsão assustadora para a floresta amazônica
Scott Z. Burns estava na segunda série do ensino fundamental quando foi acometido por sua primeira preocupação ecológica: ele descobriu que as baleias jubartes corriam risco de extinção. O jovem americano fez então um projeto para arrecadar verba e ajudar uma instituição voltada para a preservação destes gigantes marítimos. “Eles me mandaram de presente um disco com sons de baleias e aquela gravação me assombra até hoje”, diz ele em entrevista a VEJA. Hoje aos 60 anos de idade, Burns assume que suas inquietações com a natureza só aumentaram. Produtor e diretor, ele pautou sua jornada profissional em torno da mensagem ecológica, especialmente após integrar a equipe do documentário premiado Uma Verdade Inconveniente (2006), de Al Gore. “O ativismo é parte de quem eu sou e aprendi a transformar esse interesse em entretenimento, levando conhecimento a mais pessoas.” Essa jornada culmina agora em seu projeto mais ambicioso, a série da Apple TV+ Extrapolations – Um Futuro Inquietante.
Com elenco estrelado, passando por nomes como Meryl Streep, Marion Cotillard, Tobey Maguire, Diane Lane, Kit Harington, Sienna Miller, entre muitos outros, a série de tom apocalíptico, uma espécie de “Black Mirror ecológico”, transita por um futuro no qual o planeta não cumpriu suas metas de impedir o aquecimento global. As mudanças climáticas vão desde problemas de saúde crônicos causado pela qualidade precária do ar até extremos como a falta total de água em alguns países e a inundação de outros, além da extinção de espécies inteiras.
Segundo o criador da série, o material para o roteiro era abundante no noticiário. “Todos os dias, mandávamos para a equipe histórias inspiradas nas notícias do dia, de incêndios gigantescos a icebergs se quebrando, tudo condizia com o que já planejávamos para o roteiro”, conta. “Era triste ler estas notícias, mas também era uma motivação, pois significava que estávamos no caminho certo.”
Cada episódio da série é ambientado em um ano específico, começando em 2037 indo até 2070 – um futuro não tão distante do atual. O capítulo de abertura apresenta boa parte dos personagens e suas intenções: mudar o rumo catastrófico para o qual o planeta segue ou se aproveitar do apocalipse vindouro para lucrar. Um deles, o principal vilão, é o bilionário Nicholas Bilton (vivido por Kit Harington), que por vezes se apresenta como a chance de salvar o planeta com suas invenções mirabolantes – quando, na verdade, ele está por trás de ações que podem culminar em um “ecocídio”: nome dado à destruição em massa do meio ambiente. “Quanto mais poder e influência uma pessoa tem, mais responsável ela é; mas mostramos personagens com menos poder fazendo escolhas ruins. Espero que tenhamos representado a responsabilidade de todos os níveis”, diz Dorothy Fortenberry, produtora executiva da série.
A temática ainda ajudou a atrair o elenco estelar, especialmente, claro, atores e atrizes preocupados com as mudanças climáticas. “Não há nada mais importante do que o ambiente do qual dependemos”, diz Diane Lane a VEJA. A atriz de 58 anos interpreta uma executiva que trabalha com o personagem de Harington. “Eu me lembro dos anos 80, quando ouvi pela primeira vez sobre a preocupação em salvar a Amazônia, de pessoas dizendo que a floresta era o pulmão do mundo; e eu me sinto muito conectada a vocês ao ver tudo que o Brasil vem passando nos últimos anos”, disse a atriz. Na previsão feita pela série, aliás, a floresta amazônica dificilmente chegará viva ao ano de 2059. Um alerta que não deveria ser ignorado.