Chris Pratt: um machão de Hollywood na corda bamba
O ator emplaca produções como 'A Lista Terminal' — fora da tela, no entanto, luta para salvar sua imagem no tribunal da web
James Reece é um fuzileiro naval perturbado. Após seu pelotão ser exterminado, ele volta para casa assombrado por lembranças conflitantes. Subitamente, sua família é morta — e, em meio a uma conspiração, empreende sua jornada de vingança. Inspirada no livro homônimo de Jack Carr, A Lista Terminal, que acaba de estrear no Amazon Prime Video, a trama não é lá muito original, mas tem na manga um trunfo: o protagonismo de Chris Pratt, astro que já rendeu 10 bilhões de dólares em bilheteria com produções como Guardiões da Galáxia e Jurassic World. Na pele do militar atormentado, o ator exibe seus dotes como representante de uma categoria clássica: a dos machões das tramas de ação. Confere nuances ao famigerado perfil graças à imagem de piadista boa-praça, persona que nutre também fora das telas. “Enquanto crescia, desenvolvi essa personalidade de palhaço como mecanismo de defesa, uma forma de conseguir aprovação”, disse Pratt a VEJA (leia abaixo).
A busca por aprovação é uma sina da qual ele ainda não se livrou. Nascido no estado americano de Minnesota, Pratt nunca escondeu ter fé em Deus e prezar valores tradicionais. Até aí, nenhuma novidade no filão: de Clint Eastwood a Arnold Schwarzenegger, é longa a lista de astros de ação que abraçam com orgulho os valores conservadores. A diferença é que Pratt vive na era do escrutínio das redes sociais — e se equilibra como pode na pose de isentão. Não tem sido fácil. Em 2020, ele foi eleito “o pior Chris de Hollywood” em embate no Twitter contra os xarás Hemsworth, Evans e Pine. O motivo, segundo o tribunal da internet, é que Pratt seria um lobo em pele de cordeiro, que arranca risadas enquanto esconde opiniões controversas. A repercussão foi tanta que os companheiros de universo Marvel, como Mark Ruffalo, foram a público declarar: Pratt é um “cara legal”.
A implicância não veio do nada. Em entrevista recente, ele atribuiu o desagrado a um discurso de 2018 em que exalta Deus, e disse compreender o afastamento do público, já que a religião “tem sido opressiva há um bom tempo”. Foi em 2019, porém, que a situação piorou, quando o ator trans Elliot Page denunciou que Pratt frequenta uma igreja evangélica anti-LGBTQIA+. Na época, o astro respondeu acreditar no direito de amar a quem quiser, e defendeu a congregação, dizendo que ela abre suas portas a todos. A igreja, no entanto, é associada à duvidosa Hillsong, famosa pelas políticas de discriminação, e seu fundador produziu um filme que descreve a atração pelo mesmo gênero como “falha sexual”.
True Believer: A Thriller (Terminal List Book 2)
Não ajudou o fato de, em 2020, no fervor das eleições presidenciais americanas, Pratt ficar de fora de um evento on-line da Marvel para arrecadar fundos para o democrata Joe Biden, levantando rumores de que seria apoiador enrustido de Donald Trump. Embora não fosse o único ausente, e já tendo declarado não se sentir representado por “nenhum dos lados”, detalhes como a paixão por armas fizeram com que fosse ligado ao republicano. Ele nunca confirmou o apoio.
Pratt foi criado por um pai descrito como “difícil” e se tornou ator por acaso. Aos 19 anos, trabalhava como garçom no Havaí ao ser convidado para um curta de terror. Em 2009, despontou na sitcom Parks and Recreation e daí foi um pulo para ganhar Hollywood, em 2014, como o simpático Peter Quill de Guardiões da Galáxia. Aos 43, Pratt não só está no mesmo lado político de Schwarznegger: ele é genro do fortão. Casado com sua filha Katherine, abraça agora a masculinidade viril que marcou o sogro, hoje vista por muitos como tóxica. “Existe essa imagem de policiais e militares serem caras durões e sem sentimentos. Esses homens pavimentaram o caminho para a humanidade”, defende. Mesmo na corda bamba, o machão sabe ser rápido no gatilho.
“Quero que gostem de mim”
Chris Pratt falou a VEJA sobre masculinidade tóxica e tramas de ação.
Sentiu falta de seu usual alívio cômico na trama pesada de A Lista Terminal? Não. Na verdade, eu sentia falta dessa face sombria. James Reece não se importa se gostam ou não dele. Essa é uma força que eu não tenho. Quero que gostem de mim.
Então por que viveu tantos machões engraçados? Sempre tive esse lado. O humor nasce da dor, e era um mecanismo para evitar aspectos difíceis da minha infância. Me apoiei nisso também na minha carreira.
Existe um estereótipo de atores de ação como homens tóxicos. O que acha disso? Tudo em excesso pode ser tóxico, até a água ou a feminilidade. A masculinidade evoluiu por meio de guerreiros. Eles protegiam suas famílias e lutavam até a morte por sobrevivência e alimento. Só estamos aqui hoje porque alguns de nossos ancestrais eram supermasculinos.
Publicado em VEJA de 6 de julho de 2022, edição nº 2796
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