Como a greve dos roteiristas vai afetar a programação da TV americana
Paralisação irrompeu em Nova York e Los Angeles e contou com adesão de cerca de 11 mil profissionais
Nesta terça-feira, 2, irrompeu em Hollywood a greve dos roteiristas de TV e cinema, prometida há semanas. O estopim foi o fracasso das negociações de aumento salarial que estavam sendo conduzidas pelo sindicato da categoria nos Estados Unidos, o Writers Guild of America, ou WGA (Associação de Escritores da América, em português). Cerca de 11 mil profissionais — 98% dos membros do sindicato — aderiram à paralisação, tomando as ruas de Los Angeles e Nova York. Como efeito imediato, grandes programas noturnos transmitidos ao vivo, como os talk shows, serão interrompidos. A lista inclui os populares The Late Show with Stephen Colbert, Jimmy Kimmel Live! e The Tonight Show Starring Jimmy Fallon. Seus apresentadores falaram em apoio à luta dos roteiristas. O badalado Saturday Night Live, programa humorístico semanal, também confirmou que o episódio da semana não irá ao ar. Enquanto isso, programações antigas podem ser reprisadas. Para produções vindouras, como séries de TV e filmes, é esperado que ocorram atrasos em consequência da greve.
A briga é com a Alliance of Motion Picture and Television Producers (Aliança dos Produtores de Cinema e de Televisão), que representa os grandes estúdios, emissoras e plataformas de streaming, como a Disney e a Netflix. Segundo o WGA, não foi possível chegar a um acordo pois as respostas às reivindicações foram “totalmente insuficientes, levando em conta a crise existencial que os roteiristas enfrentam”. As mudanças trazidas pela ascensão do streaming — a exemplo da queda na receita antes obtida com anúncios televisivos — colaboraram para que, hoje, um roteirista receba menos por um roteiro. Além do aumento salarial, eles também pedem por uma participação mais robusta nos lucros do streaming, já que, hoje, um conteúdo é exibido em número muito maior de vezes nas plataformas.
O sindicato rechaça, ainda, que a prática de contratar roteiristas de maneira temporária e independente tenha se tornado tão comum, gerando insegurança trabalhista para a classe. Por último, há uma preocupação com o impacto que a inteligência artificial possa ter para o ofício nos próximos anos — o WAG exigiu a proibição do uso de IA, rejeitada pelo outro lado. Apesar de concordar com os salários mais altos, a AMPTP se opôs à demanda de que um estúdio deve contratar uma equipe de TV composta por 6 a 12 roteiristas por programa, com garantia de um período mínimo de semanas de trabalho por temporada.
A última vez que Hollywood experienciou uma conjuntura como essa foi em 2007, quando uma greve de roteiristas se prolongou por 100 dias — gerando um custo de cerca de 2 bilhões de dólares para a indústria. Na ocasião, séries exibidas em horário nobre, como Ugly Betty e The Office, sofreram pausas na produção. Foram cerca de 60 programas de TV suspensos e dezenas de filmes paralisados até segunda ordem. Conforme os presidentes do sindicato afirmaram na época, o acordo firmado em 2008 protegia “um futuro em que a internet se tornará uma fonte primária tanto de criação de conteúdo como de distribuição”.