Dilemas de um jovem príncipe gay animam ‘Young Royals’, sucesso da Netflix
Nova série sueca retrata com graça — e um tantinho de clichês — desafios de um garoto dividido entre as injunções da realeza e o amor por outro rapaz
*O texto contém spoilers da primeira temporada de ‘Young Royals’
Se para muitos adolescentes gays o período de descobertas e despertar da sexualidade é difícil mesmo nos dias de hoje, para os integrantes da realeza europeia, que precisam seguir uma série de normas, esse caminho pode ser ainda mais árduo. Wilhelm (Edvin Ryding), príncipe da Suécia, se vê diante de um dilema: ser exemplar aos olhos da coroa ao mesmo tempo em que se apaixona pelo amigo Simon (Omar Rudberg), e passa por um turbilhão chamado adolescência na nova série de sucesso da Netflix, Young Royals. Do primeiro beijo dos dois, dado de forma receosa pelo príncipe que diz “eu não sou…”, sem completar a frase, até a primeira vez que fazem sexo, os clichês da juventude e da intensidade que caracteriza essa fase da vida embalam as experiências do casal gay – uma temática tratada com abertura e naturalidade que não seriam tão comuns até poucos anos atrás.
De produções sobre a realeza britânica como The Crown até documentários que investigam a fundo a vida de reis e rainhas, o ambiente da corte é motivo de interesse e causa grande fascínio no público — basta lembrar do sucesso de Bridgerton. Young Royals tem um tanto do clima de fantasia romântica deste último, mas também um quê de realista. O relacionamento de Wilhelm e Simon ganha contornos folhetinescos quando o destino impõe uma reviravolta na vida do principezinho: até então à margem da linha de sucessão, ele se vê em vias de assumir o trono com a morte de seu irmão. Se na vida real o príncipe indiano Manvendra Singh Gohil se assumiu gay, em 2006, e quase foi deserdado pela família, no universo fictício da série os reis da Suécia, principalmente a mãe, não se mostram muito contentes com a ideia — até mesmo porque o namoro vem à tona com o escândalo de uma sex tape vazada.
Em vez de ser ambientada na luxúria e riqueza dos palácios, Young Royals aposta num cenário mais comum para os adolescentes: a escola. Tendo como palco central o colégio interno que abriga grande parte da aristocracia e da realeza da Suécia, as tramas são universais e fogem da perfeição física idealizada tão explorada nesse tipo de série. O sexo desenfreado e performático dos protagonistas de Elite, também da gigante do streaming, dá lugar a adolescentes com rostos cobertos de espinhas e corpos em graus de beleza variados.
Com o desafio de virar rei, Wilhelm passa do típico menino rebelde com ares de príncipe Harry a alguém que precisa lidar com as responsabilidades impostas pela família para ser o futuro rei, à la príncipe William. Enquanto isso, lida com a dúvida crucial: assumir seu relacionamento com outro garoto ou manter-se no armário para gerir a crise na coroa? No meio de especulações sobre sua sexualidade, que vão parar na capa dos tabloides de fofoca e de todos os olhares, a opção mais fácil vence. Com um gancho que não dá por acabada a história dos meninos, basta esperar pela segunda temporada para saber que fim terá a história dos amantes gays desafortunados.