Entre tantos erros ao longo de oito meses, Travessia termina nesta sexta-feira, 5, com um tropeção inadmissível entre os noveleiros: Brisa, vivida por Lucy Alves, foi uma mocinha fraca, que não causou nem simpatia, nem empatia, nem mesmo raiva. Sem apelo, a personagem ainda foi atropelada por duas outras figuras femininas. A primeira delas foi a influenciadora Jade Picon, que, apedrejada em praça pública por ter um papel de destaque sem ser atriz profissional, atraiu todos os olhares daqueles que analisaram tim-tim por tim-tim sua atuação questionável. Enquanto isso, a veterana Cássia Kis, fora de cena, dava declarações polêmicas contra homossexuais — e se aliou a movimentos antidemocráticos no fim do ano passado, atitude que ofuscou seu trabalho como atriz em detrimento de uma posição política que hoje é assunto nos tribunais. Nada disso ajudou na popularidade da trama escrita por Gloria Perez. E Lucy Alves, coitada, acabou perdida no fogo cruzado.
Vítima de uma deep fake no começo da novela, Brisa foi presa injustamente, ficou afastada da família e perdeu o noivo no primeiro mês. Mas, depois disso, sua trajetória girou em círculos em uma disputa pela guarda do filho e como ponta de um triângulo amoroso insosso com Oto (Romulo Estrela) e Bia (Clara Buarque). Por um tempo, um misterioso parente distante de Brisa foi apontado por uma cigana como uma grande virada para a personagem. Poderia ser Guerra, o pai que nunca conhecera, a tornando herdeira do ricaço. Mas o parente era o gêmeo não formado no útero de sua mãe que fez a protagonista ter quimerismo, uma condição genética raríssima que serviu para causar uma confusão sobre a maternidade de Tonho. Trama estranha? Sim, como tudo em torno de Travessia.
Brisa deveria ter tido mais destaque, uma jornada controversa e heroica, como as mocinhas de Gloria Perez costumam ter — caso de Jade (Giovanna Antonelli), de O Clone. Apaixonada por um brasileiro, a personagem foi contra a própria família e um casamento arranjado para amar quem ela queria, mesmo que isso colocasse em risco sua relação com a própria filha. No final, era difícil não torcer por Jade — mesmo ela estando errada em tantos momentos. Já Bibi Perigosa (Juliana Paes), de A Força do Querer, tão obstinada quanto Jade, fez das tripas coração para ficar ao lado do marido criminoso, chegando a virar uma criminosa também — uma paixão incondicional e irracional que tinha apelo com o público. Brisa não teve nem a chance de errar como suas antecessoras. Uma pena a chance de ouro de Lucy Alves ter sido desperdiçada, afinal, ser a protagonista de uma novela das 9 é o desejo de dez entre dez atrizes no Brasil. E Brisa, coitada, ficará marcada como a mocinha mais fraca do currículo de Gloria Perez.