O detalhe chocante do documentário sobre Flordelis na HBO Max
Evangélica aplicou botox antes de ser presa por suspeita de ter assassinado o marido, o pastor Anderson do Carmo
Condenada por envolvimento no assassinado do marido, Anderson do Carmo, a ex-deputada, pastora e cantora gospel Flordelis dos Santos, 61 anos, protagoniza dois documentários sobre sua ascensão e queda na HBO Max e no Globoplay, ambos lançados nas últimas semanas. Diferentemente da produção da Globo Flordelis: Questiona ou Adora, que se assemelha mais a uma grande reportagem do Fantástico, Flordelis: Em Nome da Mãe tem um diferencial que torna a obra da HBO muito mais atrativa: a presença de Flordelis narrando a própria história e guiando o telespectador através de sua perspectiva para desenhar os fatos que culminaram na morte do pastor Anderson.
Um detalhe que chama bastante a atenção no último episódio da obra é que, alegando inocência, a evangélica passou por uma preparação estética antes de ser presa. “Ela se preparou, chamou a clínica de uma amiga para aplicar botox nela. Ela falou que quando eu fosse vê-la, visitá-la na prisão, ela queria que eu a visse bonita”, explica Allan Soares, atual namorado da ex-deputada no documentário da HBO Max. “Tem que estar preparada para o pior. E o pior hoje, para mim, seria ir para a prisão, né? Então cuidemos do cabelo, para ser a Flordelis que eu sempre fui”, justificou ela.
Dirigida por Suemay Oran, Flordelis: Em Nome da Mãe apresenta imagens inéditas na casa da pastora, mostrando a rotina da família de dezenas de adotados, além de depoimentos com familiares da ex-deputada, pessoas que trabalhavam diretamente com ela, como sua advogada e sua assessora de imprensa, além de investigadores que atuaram no caso. O documentário ainda gravou a prisão de Flordelis em sua casa em agosto de 2021.
O olhar tão próximo, apesar de ser um grande saciador da curiosidade do público apaixonado pelo gênero true crime, leva ao questionamento se a produção da HBO Max não causa um enviesamento ao telespectador em determinados momentos dos quatro capítulos, gerando uma simpatia a Flordelis e o questionamento de se ela seria inocente, apesar de a Justiça ter julgado o contrário. Nesse quesito, por ter uma narrativa mais distante da religiosa, Flordelis: Questiona ou Adora soa mais imparcial, deixando o assinante do Globoplay mais a par dos detalhes das investigações do que da vida pessoal da protagonista, mostrada apenas por meio de imagens de arquivo.
Em entrevista a VEJA, Suemay Oran e o codiretor do documentário da HBO, Maurício Monteiro Filho, defendem que tentaram construir a obra da forma mais imparcial possível, mas que a proximidade com a pastora pode soar parcial. “Achamos que talvez o documentário pesasse mais do lado dela, porque tivemos mais tempo com ela, mas tentamos equilibrar os dois lados, da acusação e da defesa, pelo nosso lado ético de jornalistas. Mas o maior objetivo foi contar essa história, então é possível ver como essa tragédia afetou a família inteira, às vezes não buscando quem é culpado ou não”, define a diretora.
Flordelis dos Santos despontou como figura popular no Rio de Janeiro nos anos 1990 como uma mulher negra, da periferia, que não só fazia cultos a fim de evangelizar moradores de favelas como também acolheu dezenas de crianças abandonadas pelos pais e sobreviventes da chacina da Candelária, quando oito jovens foram mortos na frente da Igreja da Candelária no Rio. Admirada por toda a comunidade como um exemplo de fé, maternidade (tinha mais de 50 filhos, entre biológicos, adotados e afetivos) e altruísmo, ela se tornou também deputada federal pelo PSD-RJ. O currículo aparentemente irretocável da pastora foi manchado em 16 de junho 2019, com a morte de Anderson do Carmo, assassinado com 30 tiros. A autoria do crime foi assumida por um de seus filhos, Flávio dos Santos, mas a história desencadeou no destrinchamento de uma vida nada perfeita de Flordelis.