O luxo de ‘A Casa do Dragão’ que é pura vingança para George R.R. Martin
Série derivada de 'Game of Thrones' usa orçamento milionário para ser mais fiel à imaginação do autor do que sua antecessora
Quando Game of Thrones estreou na HBO, em 2011, chegou cercada de expectativas, mas sem a garantia do sucesso estrondoso que conquistaria nas temporadas seguintes. Ainda como uma aposta do canal, a primeira fase da produção tinha um orçamento de cerca de 6 milhões de dólares por episódio. A limitação fez com que nem todos os desejos grandiosos do autor George R.R. Martin fossem realizados. Agora, ele enfim respira aliviado com A Casa do Dragão – com um custo de 20 milhões de dólares por episódio, a produção tem “corrigido” detalhes de Game of Thrones que podem ter passado batido para a maioria dos espectadores, mas incomodaram seu ambicioso criador.
O exemplo mais recente de capricho realizado tardiamente por Martin pode ser visto no terceiro episódio da série derivada, exibido nesse domingo, 5. No livro Fire Cannot Kill a Dragon, Martin revela que a cena que mais odiou em todas as temporadas do Game of Thrones original foi a passagem em que o rei Robert vai caçar e volta com um ferimento proveniente de um ataque de javali, que levaria à sua morte.”Eu nunca escrevi uma cena de caça, mas sabia como seria um grupo real de caça. Haveria uma centena de pessoas, pavilhões, caçadores, chifres sendo tocados – é assim que um rei vai caçar! Ele não estaria apenas andando pela floresta com três de seus amigos segurando lanças esperando encontrar um javali”, explicou o autor, contrapondo a imagem pomposa imaginada por ele à simplicidade daquela reproduzida na série. No novo episódio de A Casa do Dragão, no entanto, vemos o Rei Viserys em uma grande expedição de caça, com direito a banquete para centenas de convidados e um mega churrasco – bem mais próximo do que imaginou Martin.
Essa, inclusive, não foi a única parte da imaginação de Martin que ganhou vida graças aos novos milhões dispensados na produção. Outra cena que incomodou o autor na série original e ganhou tratamento especial na nova produção foi o torneio de justas exibido na primeira temporada, em que a família Stark e convidados observam dois cavaleiros duelarem. “Um torneio na Idade Média patrocinado pelo rei e pela Capital era uma grande coisa. Havia dezenas de cavaleiros, você via oito justas diferentes, você tinha uma sensação de pompa e competidores subindo e descendo e os plebeus apostando. Deveríamos ter sido pelo menos tão grandes quanto Coração de Cavaleiro [filme de 2001], mas não conseguimos nem isso.”, disse ele, que deve ter ficado mais contente com o torneio exibido no episódio de abertura de A Casa do Dragão, que exibe uma rena lotada de espectadores, com uma ajudinha de efeitos visuais, tambores rufando e um clima de Superbowl medieval.
Nenhuma outra mudança, no entanto, é tão simbólica quanto a do lendário trono de ferro, que ganhou uma repaginada violenta na nova produção, depois de ficar famoso em uma versão um pouco diferente da que foi imaginada pelo escritor. “O Trono de Ferro deve ser assustador e desconfortável”, escreveu Martin em seu blog. Esses adjetivos se manifestam de forma explícita no trono ocupado pelo rei Viserys Targaryen em A Casa do Dragão. Na trama ambientada quase 200 anos antes da saga de Daenerys Targaryen e Jon Snow, o Trono de Ferro é grande, desalinhado e cercado por espadas pontiaguda — em movimentos bruscos, o próprio soberano corre o risco de ser cortado pelas lâminas a seu redor, algo mais próximo do imponente trono imaginado por Martin, que não reclama da versão popularizada anteriormente pela HBO, mas também não abre mão de suas obsessões.
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