Antônio La Selva (Tony Ramos) é um fazendeiro poderoso e sem escrúpulos. Personagem de Terra e Paixão, nova novela das 9 da Globo, La Selva não mede esforços para ser detestável: ele manda assassinar o dono de um pedaço de terra — a qual acredita lhe pertencer –, é grosso e autoritário com quem não lhe agrada; gosta de humilhar sempre que pode os três filhos, Caio (Cauã Reymond), Daniel (Johnny Massaro) e Petra (Débora Ozório). O primogênito, crê ele, foi o “responsável” pela morte de sua primeira esposa no parto; o segundo, apesar de advogado, não seria firme o suficiente para fechar uma negociação aparentemente simples; e a caçula, coitada, além de ser divorciada e não ter rumo na vida, é viciada em remédios de tarja preta. O crápula porém, tem uma virtude, afirma: “Eu não mato criança”. Ufa!
La Selva, na verdade, tem outra virtude, que cai muito bem para a Globo: o vilão se revelou o primeiro grande acerto do autor do folhetim, Walcyr Carrasco. Em tempos nos quais as novelas globais estavam tentando abolir a ideia do vilão — afinal, é um clichê maniqueísta o bom versus o mal –, nenhum autor conseguiu, até agora, provar que um folhetim que se preze pode sobreviver sem ter um malvadão para chamar de seu. A antecessora, Travessia, que o diga: sem oferecer uma vilania de peso, a mocinha ficou insossa e outros atores caíram na mira dos “haters“.
Na trama de Gloria Perez, faltou um personagem que provocasse a ira dos tuiteiros de plantão. As maldades bobas de Moretti (Rodrigo Lombardi) e Ari (Chay Suede) envolvendo fraudes de documentos foram desinteressantes para o público, que ficou mais engajado em criticar os enredos sem sentido da autora ou a atuação sofrível de Jade Picon. Com Terra e Paixão, não só Antônio deve abocanhar uma boa parcela do ódio do público, como também Irene (Gloria Pires), sua esposa, que faz questão de colocar o enteado, Caio, para baixo sempre que pode e contra Daniel e o pai. Maldade em dose dupla, é disso que o povo gosta.