O processo milionário contra dono da RedeTV! por fala considerada racista

Dias depois de fazer uma publicação de teor racista e xenofóbico no X (antigo Twitter), o apresentador e vice-presidente da RedeTV!, Marcelo de Carvalho, está sendo processado pela Educafro, entidade sem fins lucrativos que luta pelo acesso de pessoas negras e de baixa renda ao ensino superior. A organização deu entrada na ação na Justiça de São Paulo na última quinta-feira, 17, e o Ministério Público já foi notificado.

A ação acusa Marcelo de Carvalho de racismo e exige o pagamento de 6 milhões de reais em reparação: 5 milhões por danos morais coletivos e 1 milhão para financiar bolsas de estudo para a população negra. Além disso, a entidade pede que o apresentador faça uma retratação pública em suas redes sociais, divulgue campanhas antirracistas e participe de cursos de educação em igualdade racial e direitos humanos.

Em nota enviada a VEJA, a assessoria de Marcelo de Carvalho disse que ele não foi “oficialmente cientificado da tal ação judicial” e que “percebe-se pela descrição que ela é infundada, senão risível, pois procura explorar uma declaração de um fato específico como se abrangesse um todo e por isso destoa da seriedade com que devem ser tratados os assuntos levados à apreciação judicial”. Carvalho considera ainda que “o astronômico valor da indenização pretendida, sem nenhuma base, traz à tona a ganância por trás da vil iniciativa da entidade que a intentou”.

O que dizia a publicação de Marcelo de Carvalho

A publicação de Carvalho foi feita em 14 de julho, após o meio-irmão de seu filho mais velho sofrer um assalto em Barcelona, na Espanha. O empresário descreveu o criminoso como “obviamente um sujeito de aparência africana” e criticou a Europa pelos “milhões” de pessoas desse tipo que “deixou entrar”. “Ao invés de salvar os muçulmanos africanos, vão acabar com a Europa”, argumentou. A publicação foi excluída de seu perfil, mas o apresentador seguiu falando sobre o assunto na rede social, publicando um longo texto dividido em cinco tópicos que justificariam seu comentário como “verdade incontestável sobre a Crise Migratória na Europa”.

A publicação frisa que governos europeus de todas as tendências ideológicas reconhecem o fluxo como problema e aponta a origem “concentrada e conhecida” dos imigrantes como a África Subsaariana e o norte da África. A associação entre criminalidade e refugiados na Europa é utilizada como argumento para a extrema-direita, embora estudos e análises desmintam a relação entre os dois fenômenos.

Na nota enviada a VEJA, Marcelo de Carvalho reforçou a justificativa divulgada na rede social alegando que “o post expôs, sem juízo de valor, a subsunção de um fato específico – não genérico – à constatação sobre o impacto na segurança pública, especificamente da Europa, da imigração ilegal eminentemente proveniente da África, com base em dados estatísticos, ocorrências policiais e relatos amplamente documentados na imprensa que demonstram claramente um aumento de violência, assaltos, estupros e radicalismo islâmico promovido majoritariamente pelos grupos migratórios”. A declaração diz ainda que a fala de Carvalho “não se tratou e sequer houve uma extensão do raciocínio em nenhum momento para afrodescendentes brasileiros, nem se elaborou crítica subjetiva sobre o comportamento de pessoas de determinada etnia ou nacionalidade, limitando-se à notória e documentada violência na Europa. Não houve nenhuma associação a que afrodescendentes promovam violência ou sejam infratores da lei aqui”.

A RedeTV! emitiu uma nota de posicionamento sobre o caso, dizendo: “A RedeTV! informa que publicações realizadas em perfis pessoais não representam o posicionamento da emissora”.

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