Os motivos por trás da crise de audiência das novelas da Globo
'Elas por Elas', 'Fuzuê' e 'Terra e Paixão' sofrem com fuga do público no horário nobre
A crise de audiência das novelas da Globo tem atingido patamares preocupantes para a emissora líder de audiência. Elas por Elas, Fuzuê e Terra e Paixão vêm sofrendo com médias de ibope sem perspectiva qualquer de crescimento, mesmo com viradas em suas histórias. A atual novela das 18h, Elas por Elas estreou em 25 de setembro e está com 16 pontos na Grande São Paulo, com dias em que registrou 14. Exibida às 19h, Fuzuê tem média de 20 pontos, três a menos do que sua antecessora, Vai na Fé. Já a trama das 21h, Terra e Paixão, até conseguiu levantar a audiência baixa deixada por Travessia no horário nobre, subiu de 24 para 26 pontos a média do horário, mas, a três meses do fim, a história rural protagonizada por Barbara Reis e Cauã Reymond não superou os 30 pontos em nenhum capítulo até agora.
Cada produção apresenta um problema. Contemporânea e alto-astral, o remake de Elas por Elas, escrito por Thereza Falcão e Alessandro Marson — da história originalmente criada por Cassiano Gabus Mendes — caberia na faixa das 7, porém, por um planejamento equivocado da Globo, entrou na faixa das 6, horário em que romances de época ou espíritas costumam fazer mais sucesso com o público desse horário. Foi o caso de novelas como Cordel Encantado (2011), Além do Tempo (2015) e Êta Mundo Bão! (2016) e até sua antecessora, Amor Perfeito, que não foi um grande sucesso da faixa, mas terminou com 20 pontos de média de audiência. Apesar de ter enredos bem desenvolvidos para suas sete protagonistas e um tom cômico certeiro com personagens como Mário Fofoca (Lázaro Ramos), a novela não consegue criar uma conexão com seu público acostumado a histórias açucaradas mais tradicionais.
Escrita por Gustavo Reiz, Fuzuê faz jus ao nome e é uma bagunça generalizada e alegre. Com cores vibrantes e atuações exageradas, a novela das 7 deixaria Jorge Fernando (1955-2019) — inspiração do diretor do folhetim, Fabrício Mamberti — provavelmente contente. O problema é que a novela protagonizada por Luna (Giovana Cordeiro) e Miguel (Nicolas Prattes) tenta misturar romance, mistério e comédia, mas não consegue desenvolver nenhum dos temas muito bem. O mistério da novela — uma busca por um tesouro — é desinteressante, segundo uma própria pesquisa feita pela emissora com o público. Por mais que o casal protagonista e a vilã carismática Preciosa (Marina Ruy Barbosa) sejam cativantes, eles não têm sido suficientes para alavancar a audiência. Nos bastidores, a produção se mexe para virar o jogo acelerando a trama e aumentando as chamadas que explicam a história na grade de programação.
Aos trancos, Terra e Paixão ainda consegue sustentar seu posto no horário nobre, mas dá a impressão de que vive por um fio. O folhetim rural de Walcyr Carrasco, que ganhou o reforço de Thelma Guedes no meio do caminho, tem o mesmo problema que sua antecessora, Travessia, em relação à mocinha. Assim como Brisa (Lucy Alves) não tinha história para contar na novela de Gloria Perez e acabou escanteada, perdendo espaço para os dramas de sua rival, o mesmo ocorre com a determinada Aline de Barbara Reis. Todas as reviravoltas inseridas em Terra e Paixão para movimentar a trama na tentativa de angariar audiência pouco tem a ver com a protagonista. A chegada de novos personagens como Agatha (Eliane Giardini), Helio (Rafa Vitti) e Emengarda (Claudia) não tem relação com a mocinha, que ainda está tentando prosperar com sua terra vermelha há 150 capítulos.
Mesmo com atores talentosos como Tony Ramos (Antônio La Selva), Gloria Pires (Irene) e os outros já citados, a história encabeçada por uma superação de Aline que viu o marido ser morto no começo da história não tem o mesmo apelo e brilho que a vingança de Clara (Bianca Bin) em O Outro Lado do Paraíso (2017). Resta saber se a Globo tem algum plano efetivo para resolver os problemas ou se a emissora se contentará com o novo padrão de audiência.
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