Uma dona de casa completamente submissa ao marido descobre que é traída descaradamente por ele e acorda para a vida, se rebelando contra o machismo que permitiu por uma vida inteira. Essa é a premissa da história de Maria Bruaca (Isabel Teixeira) em Pantanal, sendo que o “bruaca” não é um sobrenome, e sim o apelido nada carinhoso recebido do rústico Tenório (Murilo Benício) na novela das 9 da Globo. O termo regional significa “uma mulher feia, grosseira, vulgar, ignorante e que gosta de falar mal da vida dos outros”, de acordo com o linguajar popular.
No remake de Bruno Luperi, que adaptou a história originalmente escrita por Benedito Ruy Barbosa em 1990, Guta (Julia Dalavia) é a filha do casal que exala um feminismo liberal (e superficial). A jovem prega a liberdade sexual para que ela possa transar com quem bem entender; o empoderamento do corpo feminino, baseado em poder usar roupas curtas e decotadas; e também defende sua independência, sem ter que dar satisfação para ninguém daquilo que faz ou deixa de fazer. Foi a “rebelde” que, inclusive, passou o começo da trama toda incentivando a mãe a ser “menos trouxa” em relação ao casamento infeliz com o fazendeiro.
Para Maria, entretanto, estava tudo bem em ser a dona de casa que cozinhava, lavava as roupas e louças, ajeitava a fazenda e que satisfazia o marido na cama — além de ser compreensiva quando ele não queria satisfazê-la. Tudo mudou para ela ao descobrir que Tenório tem outra mulher e outros filhos. A traição foi o ponto de virada para a antes submissa se “rebelar” e estragar a imagem da família margarina: parou de fazer a comida, de lavar as cuecas do marido e até de se importar com o que a filha pensa.
Guta, do pedestal feminista que ostentava, além de não revelar a verdade para a mãe no momento que descobrira a família fora do casamento, se chocou com a nova personalidade da mãe. Nas cenas exibidas na segunda-feira, 23, a interiorana explicou: “Eu abri os olhos pra vida. Não era isso que ‘ocê’ queria? Que a sua mãe deixasse de ser trouxa? Pois então”. “Eu queria que a senhora fosse feliz, mãe. Não revoltada assim”, lamentou a jovem aspirante a revolucionária, em resposta.
Com o desenrolar do enredo, Maria Bruaca está escancarando o feminismo de meia-tigela da própria filha, que sempre jurou ser uma progressista. Entretanto, é fácil ser rebelde bancada por um pai fazendeiro, e com comida feita e roupas lavadas pela mãe. Até o momento, o que Guta mais fez na novela foi nadar pelada, fazer sexo com Jove (Jesuíta Barbosa) e Tadeu (José Loreto) no rio e boicotar a libertação da mãe. Em contrapartida, é a personagem de Isabela Teixeira que tem dado o exemplo para mulheres em relacionamentos abusivos. Nunca é tarde para deixar de ser a “bruaca” de alguém.