‘Sr. e Sra. Smith’ dá um banho de modernidade na trama pop
Na série, o ator Donald Glover revisita o filme de sucesso de Brad Pitt e Angelina Jolie sobre um casal de espiões — e mostra que quer ser grande
Quando um amigo obteve os direitos sobre a trama do filme Sr. e Sra. Smith, protagonizado por Angelina Jolie e Brad Pitt em 2005, Donald Glover foi assistir ao longa de ação pela primeira vez após mais de quinze anos de sua estreia nos cinemas. Mente brilhante por trás de sucessos provocativos como as séries Atlanta e Enxame, Glover gostou do que viu, mas atribuiu a arrecadação de 487,3 milhões de dólares do filme — concebido com um orçamento quatro vezes menor — à química entre as duas beldades de Hollywood que formavam uma família fora das telas. Para o artista negro, não havia uma história consistente no enredo sobre dois agentes secretos que se casam sem saber da verdadeira profissão um do outro — já explorado, além de tudo, num filme dos anos 1940. Por isso, ele só embarcou em Sr. e Sra. Smith, série que acaba de chegar ao Amazon Prime Video, ao constatar que tinha algo a acrescentar à receita.
“Awaken, My Love!” [LP] – Childish Gambino/Donald Glover
Glover procurou se aprofundar nas camadas do casamento no centro da trama, iluminando o que é de fato interessante ali: entender como esses dois seres vão de desconhecidos a amantes problemáticos de uma forma cativante, driblando dilemas comuns das relações modernas, como a confiança — ou a falta dela. O ator-roteirista redobrou, ainda, a aposta em cenas à la James Bond. Nos três primeiros episódios, as explosões, os tiros e as lutas temperam a tensa relação entre os agentes que aceitam trabalhar para uma corporação secreta que os obriga a assumir a identidade de um casal, a fim de despistar suspeitas.
The James Bond Collection, The Blu-ray
Ao refazer pela terceira vez uma história tão conhecida, Glover busca frescor em um elemento comportamental bem ao gosto atual: o matrimônio inter-racial. Ele próprio é obviamente representativo nesse caso, ao emprestar sua face ao marido John — enquanto a americana de ascendência japonesa Maya Erskine (uma bela surpresa em cena) faz as vezes de Jane, a esposa dura na queda.
Famílias inter-raciais: tensões entre cor e amor
Para Glover, enfim, Sr. e Sra. Smith não é só mais uma produção no currículo — ou, claro, um jeito de faturar com a nostalgia pelo filme de Pitt e Jolie. A série cumpre a função de ampliar seus horizontes em Hollywood. Prestígio e seguidores ele já tem, graças ao sucesso de Atlanta. Falta sair do nicho cult rumo à popularidade de fato. Não à toa, ele já confessou que seu maior objetivo é fazer barulho. “Espero que algumas pessoas pensem que é melhor que o original, e outras achem pior”, declarou. Para o bem ou para o mal, ninguém fica indiferente a um casamento explosivo.
Publicado em VEJA de 2 de fevereiro de 2024, edição nº 2878