Sylvester Stallone a VEJA: “Sou um dinossauro”
O ator falou sobre a experiência de interpretar um mafioso pela primeira vez em 'Tulsa King'
O senhor nunca havia feito séries de TV, nem interpretado um mafioso. Por que agora? Os tempos mudaram. Os melhores roteiristas e os maiores orçamentos estão no streaming. Sobre a máfia, nos anos 1970 tentei ser figurante em O Poderoso Chefão (1972). Eu apareceria pequenininho, atrás de um bolo de casamento. Não fui aprovado, e tive de esperar cinquenta anos para viver meu primeiro mafioso. Mas valeu a pena.
Tulsa King não é comédia, mas tem humor em meio à violência. O que achou do resultado? Meu personagem é um cara ameaçador e sombrio. Mas, quando ele é enviado de Nova York para um lugar como Tulsa, é como se estivesse na Lua, com caubóis, índios e cavalos. Tentar se adaptar a isso deu uma dimensão divertida à história — ficar só matando todo mundo seria entediante.
Produções sobre a máfia ainda fazem sucesso. O que explica o interesse das pessoas pelo tema? A máfia é sempre misteriosa e sexy. Mas penso que hoje esse tipo de criminoso é quase obsoleto. Ninguém sabe mais com o que um mafioso se parece. Na série, eu sou o último da minha espécie. Estou acabado, enfim, mas tenho uma chance ao viver no Oeste como um caubói. Isso diferencia a série de filmes como Os Bons Companheiros. Eu me identifico, aliás, com meu personagem. Sou esse dinossauro. Sou a velha guarda.
Rocky (1976) ganhou três Oscars, inclusive o de melhor filme, mas o senhor nunca foi aclamado pela crítica. Sente que ainda precisa provar alguma coisa para alguém? Creio que sim. O Oscar é um prêmio político, tenha certeza disso. Nem sempre as pessoas certas ganham. Como é possível ganhar como melhor filme e não diretor? Ou melhor filme e não roteiro? Não faz sentido. Mas, ainda que eu perceba essa incoerência, sinto que ainda tenho de provar algo a mim mesmo.
Por quê? Não sei de onde vem isso. Talvez da minha infância, porque meu pai dizia que eu não era bom o suficiente. Esse complexo de inferioridade um ator nunca supera. Sempre está tentando se validar. O lado bom é que isso me torna produtivo. Não quero parar.
Publicado em VEJA de 21 de dezembro de 2022, edição nº 2820