Novela das 7 da Globo, Vai na Fé exibiu uma discussão sobre aborto no capítulo de quinta-feira, 2 — tema ousado para o horário, já que a emissora costuma reservar assuntos mais espinhosos para a faixa das 21h ou até das 23h, quando as crianças já estão dormindo. Durante uma aula de Lumiar (Carolina Dieckmann) no Icaes (Instituto Camargo Antunes de Ensino Superior), Alice (Laiza Santos) pediu ajuda à professora do curso de Direito para socorrer uma amiga que havia sido presa ao fazer um aborto clandestino. Apesar de a vítima ter sofrido abuso sexual, feito o boletim de ocorrência e, portanto, ter direito à interrupção da gravidez por lei, a jovem não conseguiu acesso ao procedimento por meios legais e precisou recorrer a uma clínica clandestina. Entretanto, foi denunciada e algemada a uma cama de hospital. “Se algemaram, prenderam ela em flagrante, mas a conduta não é essa nesses casos”, explicou Lumiar, que foi ao socorro da amiga de Alice.
Em paralelo, Jenifer (Bella Campos), que é fruto do estupro cometido por Theo (Emilio Dantas) com Sol (Sheron Menezzes), se declarou contra o aborto, subentendendo-se que se apaga a essa visão por causa da religião evangélica. “Eu não sou a favor do aborto, mas sou a favor de poder escolher”, defendeu Guiga (Mel Maia). Isabela (Clara Serrão), então, explicou que o aborto é permitido por lei quando a gravidez é consequência de um estupro. “Também não concordo com essa lei”, rebateu Jenifer. Sem saber da história de Sol, que havia sido drogada por Theo antes de ter uma relação sexual com ele, Guiga lamentou a tortura de ter um bebê fruto de um abuso. Sentindo-se mal com o comentário, a filha da protagonista saiu da sala, seguida pela amiga Isabela, e revelou sua angústia: “Se minha mãe tivesse feito a mesma coisa que essa menina, eu não estaria aqui”.
Em poucos minutos, a sequência ampliou o debate sobre o aborto em casos de estupro, mostrando o lado jurídico da questão, o conflito religioso e moral e as consequências de tudo isso em pleno horário nobre. Assim, a novela fez história ao abordar uma questão real – e de impacto tantas vezes trágico na juventude – de forma delicada e corajosa.