Inimigos figadais, o humorista Marcelo Adnet e o secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Mario Frias, têm uma paixão em comum: o Botafogo, clube carioca que em 2018 fundou sua própria escola de samba. A agremiação, que já homenageou o ex-jogador Túlio Maravilha e a cantora Beth Carvalho, este ano terá como enredo o jornalista, ex-técnico da seleção brasileira e militante de esquerda João Saldanha (1917-1990).
O que Frias e Adnet têm com isso? Tudo. O político de direita e ex-ator de Malhação é sobrinho-neto de Saldanha, um combativo militante do partido Comunista que chegou a ser preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) durante a repressão. Treinador da seleção brasileira, ele foi demitido por pressão do general Emilio Garrastazu Médici às vésperas da Copa do Mundo de 1970 – Saldanha recusara-se a convocar os jogadores preferidos do ditador, o que fez com que Nelson Rodrigues o apelidasse de “João Sem Medo”.
São essas e outras histórias que Marcelo Adnet, carnavalesco do Botafogo Samba Clube em 2022, vai contar no desfile da escola. “João Saldanha é um símbolo da luta contra a ditadura. Uma voz que jamais calou no momento mais sombrio. É um ídolo do Botafogo, da imprensa, do futebol, da resistência e do Brasil”, disse a VEJA o ator, que está processando Frias criminalmente pelas ofensas postadas pelo político em suas redes. Adnet foi chamado de “criatura imunda”, “garoto frouxo e sem futuro”, “crápula” e “Judas” pelo secretário da Cultura.