Depois de um vídeo sambando em total sincronia com os ritmistas da Paraíso do Tuiuti viralizar no último carnaval, Mayara Lima, a então princesa de bateria, viu sua vida mudar. Ganhou milhares de seguidores, foi a programas de TV, ficou amiga de famosos e… em 2023 será rainha de bateria da escola na qual desfila desde os 14 anos. Ela assume posição antes ocupada pela dentista Thay Magalhães, vaiada na Avenida sem empolgar no cargo. Dizem no mundo do samba que sua rejeição se deveu, entre outros motivos, porque era bolsonarista declarada. Representante da tendência de se dar destaque a crias da comunidade, Mayara vive seu sonho sem polemizar com o passado recente. Quer aproveitar o reinado para ser tendência também para outras escolas.
Qual é a sensação de ser, finalmente, rainha de bateria? Estou vivendo um sonho. Ser rainha para a gente que é passista, musa, que sempre viveu do carnaval, é sempre um sonho. Costumo dizer que gosto de viver os momentos como se fossem os últimos da minha vida. Só o fato de vir à frente da bateria, independentemente de cargo, já pesa muito. Ano passado vivi o início desse sonho e agora finalmente a escola me concedeu o cargo de rainha.
O que mudou na sua vida desde então? Muita coisa. Muitos seguidores começaram a chegar, algumas marcas estão me procurando. E com certeza isso vai mudar a minha vida, a vida do meu filho, da minha família. O vídeo (que viralizou) fez com que pessoas e marcas que nunca olharam para o meu trabalho, começassem a se interessar por mim e pela arte do samba. Tudo que eu puder fazer nos meus trabalhos, para incluir o samba, eu vou incluir. Não quero ser rainha de bateria somente pelo cargo, quero fazer a diferença.
Sua família sempre foi do samba? Não nasci na escola, mas cresci. Minha vivência foi toda ali dentro, aos 14 anos comecei no Tuiuti. Sou nascida e criada na Cidade de Deus, mas sempre frequentei São Cristóvão para sambar. Quando a gente diz ‘comunidade’ é sobre quem participa, é quem se doa. Minha avó foi rainha de bateria. Hoje ela não está mais aqui, mas pude saber isso da boca dela. Meu tio é presidente de uma escola na Cidade de Deus. Minha mãe foi a que me levou para o samba, foi a primeira pessoa que acreditou em mim. Minha ancestralidade é com eles, através deles.
Aumentou o assédio depois de receber a coroa? Assédio existe, mas é uma coisa que consigo lidar. Alguns homens tentam colocar a mão na minha cintura, eu tiro. Meu marido fica bem distante disso. Ele me apoia, nunca focou nessa questão do assédio, mas em me apoiar. Até porque a gente vive em mundos iguais, ele sabe que isso às vezes acontece e é tranquilo. Ele me acompanha em tudo, viagens, compromissos, é meu assessor pessoal (risos).
Como foi desfilar no ano passado ao lado da Thay Magalhães, que era bolsonarista? Te incomodou? Nem um pouco, eu sabia desde o início que ela estaria do meu lado e nunca vi problema nisso. O carnaval é isso, você está ali em prol de uma coisa só, que é a escola. Quando você leva o seu ego maior do que o pavilhão da escola, já deixou de fazer parte daquela cultura, daquela união que o carnaval é.
Rainha de bateria é um lugar que tem que ser ocupado por pessoas da comunidade? Sim, quem é de fora não tem noção, mas a gente está vencendo, já somos a metade das escolas com rainhas de comunidade. E a gente está aí para mudar essa visão e fazer com que outras escolas comecem a colocar as meninas da comunidade.
Por que é importante essa representatividade? É uma representatividade e uma responsabilidade muito grande. Eu sempre fui fã da Bianca [rainha de bateria da Portela], da Raissa de Oliveira [ex-rainha de bateria da Beija-Flor] e da Evelyn Bastos [rainha de bateria da Mangueira], pessoas que eu vi e falava que queria ser igual a elas.
https://www.youtube.com/watch?v=HxoDvceef9E
https://www.youtube.com/shorts/x9yIAZlIfy8