Aos 90 anos, Léa Garcia aponta o auge da sua carreira
Referência no país, atriz lança livro sobre trajetória artística, entre várias homenagens
Léa Garcia completou 90 anos em 2023. Uma marca e tanto. Desses, mais de 70 são dedicados à atuação no teatro, cinema e TV. Em vista da longa trajetória, somando mais de 100 produções, e papel fundamental na quebra de barreiras de personagens até então destinados a atrizes negras, Léa vem recebendo inúmeras homenagens. Merecidíssimo, aliás. A mais recente vem de Julio Claudio da Silva, autor do livro Entre Mira, Serafina, Rosa e Tia Neguita: A Trajetória e o Protagonismo de Léa Garcia, que destaca a importância da atriz ao cenário cultural brasileiro. Em conversa com a coluna, Léa fala desses sabores de se comemorar sua inspiradora história de vida.
O que este livro representa para a senhora? A importância se dá no reconhecimento da trajetória de vida de uma mulher negra dentro da sociedade brasileira e no ambiente artístico. Isso representa uma conquista, considerando que tantas outras atrizes, com expressivo trajeto artístico, não tenham obtido esse registro.
Que parte achou mais difícil de falar? Não existiu parte mais difícil, a minha narrativa fluiu naturalmente, e o Júlio obteve algo sincero, verdadeiro e com caráter de resistência.
Qual foi o auge da sua carreira? Por incrível que pareça o auge da minha carreira está sendo agora. Diante de tantos prêmios, biografia, convites para festivais de cinema, festivais de teatro e também programas em televisão. Isso tudo está movimentando bastante a minha vida.
Como a senhora vê o protagonismo negro como uma realidade nas novelas hoje? Essa inclusão se dá pela implantação de políticas públicas e ações afirmativas, através de instituições e personalidades qualificadas, que nos representam, empenhadas na questão racial. Também por nós, atores, que antecederam os jovens que estão agora conquistando esses espaços.
Por que demorou tanto para esse protagonismo? O que levou a esse retardamento foi e é o racismo estrutural. E não nos satisfazemos apenas com o protagonismo, queremos conquistar as produções, as direções, ver nossos autores em novelas, teatro, televisão, cinema. Ai sim, quando tivermos conquistado esses espaços, estaremos em um ambiente artístico justo e igualitário.
A TV é mais racista que o teatro e o cinema? O modelo racista sempre se reproduziu no setor artístico e em qualquer área de trabalho.
Quais dicas daria para alguém no começo da carreira? Quando amamos o que fazemos, enfrentamos todos os atropelos e obstáculos. Então, recomendo aos jovens que sejam fortes, conscientes e resistentes. Agora, submissos, jamais.