Ator português diz como a extrema-direita está ganhando força em seu país
Pedro Carvalho, que interpreta pastor evangélico em peça, fala a coluna GENTE sobre religião e política
Pedro Carvalho, 39, está em cartaz com o espetáculo Pandemônio, escrito por Alessandro Marson e dirigido por Breno Sanches. Por algumas semanas, ele conta a história de um Brasil distópico que vive uma guerra entre três partidos políticos. Ao interpretar um pastor evangélico conservador, o ator português, que vive há oito anos no Brasil, prega valores opostos ao de seu personagem. Natural de Lisboa, esteve em algumas novelas brasileiras, como A Dona do Pedaço (2019) e O Outro Lado do Paraíso (2017) – e agora aguarda o lançamento do remake de Dona Beja, da Max Brasil. Ao falar de política e religião na conversa com a coluna GENTE, Pedro admite que vem se decepcionando com a instituição cristã, em especial com recentes comentários homofóbicos do Papa Francisco.
Seu mais recente trabalho tem a temática voltada ao fundamentalismo religioso e política em um universo distópico. O que aprendeu com esse tema? É importante falar sobre isso, porque a gente fala sobre um Brasil distópico, mas não é tão distópico assim. No mundo inteiro esses grupos extremistas estão aparecendo; grupos que, com as suas políticas de extrema direita, radicais, se tornam anarquistas. Isso já é uma realidade na Itália, na França, nos Estados Unidos, em Portugal e aqui no Brasil. Há uns anos a gente achava também que uma pandemia jamais iria acontecer, e aconteceu. A peça tocou nas feridas, porque é uma realidade, é uma ficção que pode acontecer no dia de hoje.
O mundo vem assistindo a uma crescente da extrema-direita. O que pensa desse movimento? Tudo que é extremista é perigoso, e tudo que foge de tentativa democrática é extremismo. Seja o extremismo religioso, o extremismo ideológico, político, para mim, é perigoso. A gente caminha a passos largos no mundo inteiro para essa virada. Estamos caminhando para um mundo perigoso.
A seu ver, quais são os perigos desse extremismo? Os extremistas fraccionam a sociedade. Para fazer esse personagem, por exemplo, vi documentários de vários ditadores. O que mais me chocou foi o do Hitler, é impressionante como ele começou. Ele tinha uma oratória incrível e esse condão de convencer as pessoas. Isso tudo começou a reverberar dentro dele porque ele achava que a sociedade tinha de ser toda branca, loura, de olho azul, e queria eliminar o resto. À medida que ele foi ganhando poder e influenciando pessoas, se tornou um monstro extremista. O grande perigo do extremismo é este, eles fraccionam a sociedade.
Como vê a situação política do seu país hoje? A extrema-direita está ganhando muita força em Portugal, infelizmente, e eles têm esses fragmentos de sociedade, ou seja: não querem pessoas imigrantes, não querem pessoas de cor, não querem pessoas ciganas, não querem homossexuais. Eles caminham sempre para o que, na cabeça deles, é o ideal de uma sociedade, mas não é.
Recentemente, Papa Francisco fez comentários considerados por muitos como homofóbicos durante reunião fechada no Vaticano. Como viu o caso, já que a peça também aborda religião? Olha, isso me deixou muito triste, porque gosto desse Papa. Depois ele se desculpou e se retratou, mas já estava falado. E para ter falado é porque ele pensa. Isso me deixou bem triste, bem desiludido, não afeta minha fé, mostra que há preconceito. O casamento gay ainda não é permitido em tantos países, o aborto, mesmo uma criança sendo estuprada, continua sendo uma questão…