Não faltam polêmicas na vida de Carolina Ferraz. Aos 55 anos, ela não se esquiva de explicar nenhuma delas. Comandando o Domingo Espetacular da Record TV, no qual segue firme e forte apesar dos boatos de que estaria de saída, além de assinar com a filha mais velha, Valentina Cohen, 28, produtos de uma marca de home & lifestyle, a atriz e apresentadora conversou com a coluna sobre sua trajetória. Num bate-papo de quase uma hora com algumas interrupções do cachorrinho Manoel e da caçula Isabel, de 8 anos, do relacionamento com o médico Marcelo Marins, Carolina fala da pressão por plásticas, das rugas com Regina Duarte e do uso do princípio da maconha para combater a insônia.
Você já defendeu o “direito ao envelhecimento” e comentou que ninguém tem a obrigação de ficar esticada ou fazer procedimentos da moda. Como sente a pressão da idade? Estou com 55 anos, não faço de conta que tenho 22 e me acho uma mulher ainda muito bonita, com energia e vitalidade, fisicamente está tudo certo. Envelhecer é muito mais desagradável ao mundo do que a mim mesma. As pessoas comentam muita coisa de um modo geral, ‘nossa como ela envelheceu’. O homem pode derreter, ficar grisalho, todo mundo acha um charme. Homem mais velho que não está namorando, que não está casado, todo acha que é pegador, solteiro convicto. A mulher é uma coitadinha. Existe uma cultura enraizada na sociedade. Não há tempo certo para ser jovem ou velho, o tempo é o hoje. Não tenho nada contra procedimento, se algum dia eu achar que estou muito caída, vou lá fazer a plástica. Cada um tem que fazer o que quer na hora que precisa.
Em que pé está o processo contra a TV Globo? Então, não posso comentar. Segue em segredo de Justiça.
A sua última trama foi Haja Coração, em 2016, na Globo. Sente falta de novelas? Novela não quero nunca mais fazer. Mas estou louca para voltar a atuar, já estou pensando em escrever um espetáculo de teatro. Não sei o que vou fazer, estou com vontade, por exemplo, de fazer cinema, séries… Posso fazer essas coisas até pelo contrato que tenho.
Por que não quer mais novela? Eu sou atriz, mas novela realmente eu não quero mais fazer, eu já fiz muita. Quando virei uma página, fui me reinventar e gosto de ser apresentadora. Estou fazendo uma coisa que quero, mas não deixei de ser atriz. E agora está me dando aquela vontade de voltar a atuar. Ao fazer novela, você é abduzido. E estou em outro momento. Eu já sou uma mulher madura, não tenho a mesma disponibilidade que tinha quando estava com 25, 26 anos.
Faltam papéis para mulheres de sua idade na TV? Vamos falar de uma coisa mais efetiva, o mercado publicitário, as maiores campanhas do mundo têm a Julia Robert, Ilma Turner, Jennifer Lopez. Lá fora, o mundo vê uma mulher de 50 anos como empoderada. Pode estar casada, solteira, mas ela já tem um patrimônio, tem seus recursos, é uma consumidora potencial. Aqui no Brasil as pessoas da nossa idade são tratadas como inexistentes, não vejo uma capa de revista, um anúncio… As pessoas vão vender creme de beleza e colocam uma menina de 20 anos. A cultura no Brasil é machista. Não só os homens, as mulheres ainda não absorveram abertura gigante que existe no mercado.
Nos últimos tempos vários famosos têm vindo a público relatar casos de assédio moral e sexual no trabalho. Você já passou por algo parecido? Isso é muito íntimo, mas dou maior valor às pessoas que denunciam, entendo a importância de se colocar, acho super válido. Porque o que não pode permanecer é a cultura do silêncio. Eu mesma já passei por isso, então entendo agora. Mas não é uma experiência que seja fácil de ser colocada. E você tem que abraçar, ter uma rede de apoio. Não vivi nada muito assim, mas realmente já passei por algumas coisas que, olhando agora (com distanciamento), falo: ‘não foi bom’. Você cria uma consciência só depois. E é bom isso para que não se repita.
Voltaria para o Globo? Deixou muitos amigos lá dentro? Tenho certeza que deixei muitos amigos, em todas as áreas. Desde equipe técnica, figurinistas, camareiras, diretores, atores, foi minha casa durante 27 anos. Sagrado é o meu ofício, não o local onde trabalho. Sou uma pessoa que constrói relações saudáveis, que está interessada em fazer o melhor. Posso trabalhar em qualquer lugar, se estiver fazendo algo que eu goste.
Circulou na internet a notícia de que você teria pedido camarim e maquiador próprios na Record. O que há de verdade nisso? Acho que quando você muda de emissora, sei lá, acho que alguém quis inventar alguma coisa. A própria Record se posicionou, o meu maquiador quem paga sou eu. É uma pessoa que me acompanha há anos e todos os apresentadores têm camarim particular. Não é um privilégio meu.
Você deu uma bronca pública na Regina Duarte, quando ela usou uma foto sem te consultar. Você voltou a falar com ela? Gosto muito da Regina, trabalhamos em várias novelas juntas, mas nunca mais nos falamos. Só que não retiro absolutamente nada do que disse naquele momento. Tenho muito respeito pela profissional que ela é, mas não gosto de estar exposta sem nem sequer ter sido consultada. Estou no meu direito, (o áudio da bronca) era só para ela, mas vazou. Gosto muito dela, dos filhos dela, mas esse incidente nos afastou.
Carlos Tramontina, ex-apresentador da Globo, te criticou por conta de processos contra a emissora. Como reagiu a esse comentário? Olha, não conheço ele, nunca fomos apresentados. Eu jamais, em nenhum momento, falei mal da emissora em que trabalhei durante 27 anos, existe uma questão que tinha que ser resolvido de uma maneira e luto para que ela seja resolvida. Todos nós sabemos que essas coisas levam muitos anos, mas não conheço o senhor Carlos Tramontina, não sei por que ele se deu ao trabalho de falar sobre mim.
Francisco Cuoco contou numa entrevista sobre a falta de parceria com você no remake de Pecado Capital, em 1998. Ele disse que você se recusou a beijá-lo em cena. Como foi isso? Ele pediu desculpas depois, disse que eu era excelente profissional. Não tenho o que comentar, só tenho respeito pelo Cuoco. Essas coisas que acontecem no ambiente de trabalho, às vezes saem de lá, onde supostamente deveríamos estar protegidos. As coisas acontecem, lidamos com as nossas emoções. Às vezes as pessoas têm comportamentos que não são esperados. Nunca foi um comentário que saiu de mim, ao longo de toda a vida pública fui discreta, não fico falando das pessoas. Depois trabalhamos juntos, fizemos o remake do O Astro (2011) e a gente se deu muito bem, isso já foi superado, é passado.
Qual é a lição que tira desse episódio? É sempre a mulher que criou um problema, eu menina, novinha, bonitinha, por quê? Não necessariamente as coisas acontecem dessa forma, mas muitas vezes querem fazer você engolir coisas.
Como lida com a fama de encrenqueira? Sempre fui uma pessoa muito íntegra e respeito mesmo as pessoas, cada um na sua e eu na minha. É difícil de ver o contrário, uma atriz e todo mundo falando do ator, até nisso existe uma cultura machista, sexista…
Você se considera feminista? Super, fui criada em televisão, que é o ambiente mais machista que existe na face da Terra. A televisão é muito machista e você tem que saber se colocar. Tanto que depois que aprende, a galera com quem mais convivi é a da técnica. Mas só tem homem… Agora mais mulheres estão arrebentando. Mas era um universo muito mais masculino na minha época. Era muito difícil.
Como lida com menopausa? Tive sorte, não tive nenhum dos sintomas clássicos, mas acho reposição hormonal tudo na vida, as pessoas que podem ter acompanhamento médico, deveriam fazer. Eu faço, mas tenho amigas que não querem nem saber de fazer.
Tem mulheres que usam óleo de canabidiol nessa fase. Já usou? Eu uso o óleo de CBD (à base de canabidiol) para dormir há quase quatro meses, tomo cinco gotas de manhã e 12 gotas à noite. Existem tantas maneiras de você tirar proveito de uma planta, que as pessoas ainda conhecem pouco. A própria ciência está aí para concordar com o que digo. Quando provei o CBD pela primeira vez, fiquei tão feliz, realmente funciona. É a tecnologia a serviço do homem.
Quando surgiu o interesse pela gastronomia (é autora de três livros da série Na Cozinha com Carolina. Formada como chef pelo Le Cordon Bleu, teve dois programas no canal GNT: Receitas de Carolina e Tá na Mesa)? Minha mãe sempre cozinhou, sempre gostou de reunir as pessoas na mesa, é característica da minha família. E aí quando cresci, passei a gostar de receber, de ter as pessoas por perto. Cozinhar é uma coisa afetiva, tenho uma relação intuitiva, nunca quis trabalhar com alta gastronomia, quero fazer um bom macarrão com molho de tomate. A minha cozinha é do coração. Parece clichê, mas minha mãe me ensinou.