A artista plástica Christina Oiticica, 71, casada com o escritor Paulo Coelho, 75, mora em Genebra, Suíça, desde 2008. Ela realiza trabalhos ligados ao Land Art, estética dos anos 1960, que utiliza intervenções da natureza. Sua técnica consiste em enterrar as obras e aguardar os resultados gerados pelo contato com o meio ambiente. A recente coleção Fauna e Flora, em parceria com o estadunidense Blake Jamieson, já percorreu 17 países e agora está no Palácio Biester, em Sintra, Portugal, até 17 de agosto. As obras ficaram nove meses enterradas em Monthey, na Suíça, antes de serem expostas. Em conversa com a coluna, Christina expõe suas opiniões sobre o meio ambiente, entre outros temas.
Suas obras são produzidas com a ajuda da natureza, e o tema do meio ambiente nunca esteve tão em alta. A senhora tem algum projeto voltado para a sustentabilidade? No meu projeto do Pavão-Pavãozinho [comunidade da zona sul do Rio de Janeiro], ajudo 450 crianças, desde creche até antes da faculdade, se chama Meninos de Luz. Também ajudo um orfanato em Minas Gerais, o hospital da Irmã Dulce. Esses são os projetos aí do Brasil. Agora, amo a natureza, ela é fundamental para sobrevivência dos homens, acho que tem que ser preservada.
A senhora é a favor da taxação de bilionários como já acontece nos Estados Unidos? Se estiverem fazendo algo ilegal, sim. Uma coisa que sempre penso: É muito importante tudo ser respeitado, não só a natureza, como os seres humanos. Acho também que a natureza é muito mais forte do que a gente. É muita pretensão nossa achar que a gente pode salvar a natureza, ela que coordena a nossa vida.
Como assim? Tem um terremoto, alguma coisa, a gente não tem controle sobre isso. Lógico que a gente tem que fazer tudo para preservar o meio ambiente. Mas, por exemplo, a camada de ozônio é uma coisa que nunca mais ouvi. Antigamente ninguém podia usar spray, não sei se mudaram o gás. Vivo num país que é super preocupado com a questão do meio ambiente. Para ter ar condicionado em casa, tem que ter a permissão. Aqui os jardins não são como os de outros lugares, tratados como na França. Aqui a própria natureza se renova. No início fiquei até assustada: ‘Não cuidam dos jardins?’. Depois fui compreender que era o ecossistema.
É possível conectar religiosidade, meio ambiente e arte? A terra para mim é sagrada, é a Imaculada Conceição, a Nossa Senhora, a grande mãe. Tenho respeito pela terra e o meu trabalho é dedicado à Imaculada Conceição. Rezo, sou ligada a vários santos desde criança, já nasci com essa vontade de rezar, de fazer promessas, rezo vários rosários por dia, adoro.
Um dos focos do governo Lula é a proteção da floresta amazônica e o fim da exploração irresponsável. Acredita que esse cenário vai melhorar? Espero que melhore, mas é difícil, é uma floresta imensa. Por exemplo, a Suíça é um país pequeno, aí compara com o Brasil, um país imenso, com pessoas super diferentes de Norte a Sul. Fico imaginando também a floresta amazônica, onde estive lá em 2004. Tenho vários amigos que moram lá. Fui a uma tribo, fiz um trabalho com as mulheres, enterrei quadros… Espero que melhore.
Como tem acompanhado a mistura de religião e política no Brasil? Religião e política não combinam, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Cada uma tem seu papel, não pode misturar porque não dá certo, isso a gente já sabe.
Paulo Coelho afirmou no Twitter que se arrepende de ter se empenhado na campanha do Lula em 2022. Ele ainda pensa assim? Eu não posso responder por ele. Foi uma coisa que ele pensou no momento.
Como a senhora vê os primeiros meses no governo Lula fora do país? Adoro meu país, mas já saí há muitos anos. E acho que é um novo momento, de transformação, é um bom momento. Acompanho os jornais brasileiros, não só os daqui, sei tudo que está acontecendo.