Aos 43 anos, Débora Falabella não enche os olhos para falar do interesse pelo streaming – tal como outras atrizes de sua geração. Ela se encanta, sim, para narrar a saudade que sente de voltar a atuar em novelas. Mas também vai protagonizar Terra Vermelha, título provisório da novela de Walcyr Carrasco. Enquanto isso, divulga em festivais seu mais recente filme, Bem-Vinda, Violeta!, todo falado em espanhol. No longa, a atriz interpreta uma escritora que, ansiosa para escrever seu próximo romance, ingressa na Residência do Fim do Mundo, um conhecido laboratório literário da Cordilheira dos Andes, onde os artistas abandonam suas próprias vidas para viver como seus personagens. A produção tem direção de Fernando Fraiha, quem Débora engatou um romance após as filmagens. A seguir, o bate-papo com a coluna.
Que cena de Bem-Vinda, Violeta! mais te marcou? Uma das cenas mais marcantes é uma muito grande do filme, tem onze minutos, é bem tensa, onde falo muito, conto toda a história da personagem que estou escrevendo, contracenando com um ator argentino. Foi super desafiador, mas ao mesmo tempo tenho muito orgulho, por ter aprendido a pensar em espanhol.
Como foi filmar num ambiente tão inóspito? É um filme feito na Terra do Fogo, na Cordilheira, todo falado em espanhol. É um trabalho muito diferente do que eu já tinha feito, saí do meu lugar de conforto como atriz. Era um lugar de uma natureza muito forte, muito presente e violenta. A gente foi gravar durante o verão, mas tinha dias com sol fortíssimo, ventos, neve. A gente gravou em cima de uma montanha nevada, entrei em um lago quase congelado, com cinco graus.
Você e Fernando Fraiha, diretor do longa, já namoravam nas filmagens? A gente não chegou a trabalhar juntos como namorados, fomos namorar muito tempo depois. Mas a gente tem muitos projetos juntos, ele está escrevendo o roteiro de um, que provavelmente a gente deve filmar daqui a um ano, dois. Então, é uma parceria muito boa.
Além do namorado, o que leva desse filme? A gente vai carregando um pouco de cada um. Afinal de contas, a gente precisa estar em cena durante 9 horas por dia, 10 horas por dia. Com Bem-vinda, Violeta!, sempre gostei muito da escrita, mas era algo difícil para mim e, depois do filme, comecei a escrever, fiz cursos de escrita. Não que vá fazer isso profissionalmente, mas é algo que se desenvolve em mim. Assim como quando você faz um personagem que canta, o canto vai se desenvolver em você, algo que você nunca tinha imaginado. Essas coisas são muito interessantes de você levar dos personagens.
O filme trata de artistas que abandonam suas vidas para viver como seus personagens. Se pudesse escolher, levaria a vida de qual personagem que já interpretou? É uma pergunta muito difícil. Não tem como escolher uma só, me sentiria péssima com todas as outras. Eu já fiz tantas coisas, no teatro, na TV, e são tão intensas, que levaria um pouquinho de cada… No caso de Avenida Brasil, que eu fazia uma chef de cozinha, por exemplo, acabei desenvolvendo uma vontade maior de cozinhar.
Você estará em Terra Vermelha. Existe uma onda de atores que não querem mais fazer novela. Como vê esse movimento? Eu fiz Avenida Brasil há 10 anos, depois disso fiz muita série, não foi algo planejado. As séries estão sendo muito mais produzidas, é normal que atores estejam envolvidos. Mas é bom variar, estou morrendo de vontade de fazer novela de novo, é algo super desafiador, não vou falar que é fácil, porque são quase 12 meses da sua vida dedicados a um personagem, a um trabalho. Mas se faz muito bem no Brasil.
O que você espera que o novo governo faça para a área de cultura? Espero que a cultura seja valorizada, um país que não valoriza sua cultura não ganha nada com isso. As pessoas ficam muito dentro de si mesmas e não olham para fora. A cultura, a arte, nos dá possibilidade enxergar o mundo de forma mais poética, inteligente, nos atinge em lugares diferentes.