Aos 67 anos e cinquenta de carreira, o premiado dramaturgo Gerald Thomas pediu a amigos, em vídeo, que “parem de dar conselhos” e comprem seus desenhos e ilustrações, para poder pagar 23 000 dólares e não ser despejado do apartamento onde mora, em Nova York.
Qual a história desse vídeo? Ele vazou. Mandei para uma única pessoa, um amigo, que disse ter divulgado para me ajudar. Na hora fiquei com raiva, mas no fim das contas foi bom. Vendi muito, a jato. Em 24 horas compraram nove trabalhos, um deles enorme, de 10 000 dólares.
Deu para pagar a dívida? Daria, mas quem vai pagar é o governo americano. Eu dei entrada no Programa de Assistência Emergencial, um sistema de proteção ao inquilino. Coisa de país organizado. Imagina se no Brasil teria algo desse tipo? Jamais. Não se pode comparar o Brasil com os Estados Unidos e muito menos com a Europa, que consegue ser ainda mais organizada. Só não gosto de Portugal.
Por quê? Não tenho paciência para Portugal, para aquele mau humor deles, aquela cara sempre para baixo. São uns boçais, grossos, mal-educados. É um povo nostálgico, que fica com aquele papo de “o mar, o mar”. A Espanha, por exemplo, tem Dalí, Miró.
Pensa em voltar a morar aqui? Como é chata essa pergunta. Meu amor, eu nunca morei no Brasil, só até os 14 anos, com meus pais. Sozinho, adulto, nunca tive apartamento aí. Quando vou, me hospedo em hotel e fico no máximo três meses com visto de trabalho.
Também não gosta do Brasil? Eu gosto, mas sempre detestei o governo brasileiro. Não consigo me entusiasmar com aquele bando de bigodudos que falam grosso em Brasília, naqueles ternos horríveis, aquela coisa cinza tenebrosa. O brasileiro não é apaixonado pelo Brasil, só pelos times de futebol mesmo e olhe lá.
Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2021, edição nº 2754