O rapper Oruam, 22 anos, se tornou um dos nomes mais comentados do cenário musical, após apresentação no último dia de Lollapalooza 2024, no domingo, 24. O carioca subiu ao palco vestido com uma camiseta estampada com a foto do pai, o traficante Marcinho VP, preso em 1996 e condenado a 44 anos de prisão por crimes como homicídio qualificado, formação de quadrilha e tráfico de drogas. Do palco, foi direto dar entrevista ao Multishow para apresentadores que, talvez imbuídos pelo clima festivo do evento, não lhe provocaram com o chamativo look. “Meu pai errou, mas está pagando pelos seus erros e com sobra. Só queria que pudesse cumprir uma pena digna e saísse de cabeça erguida”, escreveu Oruam em seu perfil no Instagram pouco depois do show, já embalado pela enxurrada de críticas que recebeu pelas redes sociais. Já os organizadores do festival que o convidara, procurados pela coluna, comunicam que “o Lollapalooza respeita o direito de livre opinião e expressão de público e artistas”.
Há pouco mais de um ano, Oruam despontou no cenário musical. Em 2022, assinou com a Mainstream Records; e em 2024, se firmou como um dos nomes promissores do gênero no Brasil. Tudo sustentado pelos seus mais de 10 milhões de ouvintes mensais no Spotify. No momento, seu maior hit é Rolé na Favela de Nave, com DJ LC da Roça, música com batida funk que conta parte da origem do jovem, cria do morro do Alemão, da zona norte do Rio. A composição incita o uso de drogas e o porte de armas: “Rolé na favela de nave (de nave) / O som no último volume (volume) / Vou brotar no baile mais tarde (mais tarde) (no Complexo) / Vou usar um lança-perfume (no Complexo) / Botar a Glock pra dar um rolé (no Complexo) / Pras piranha ver um volume (no Complexo) / É que na Selva do Urso (no Complexo) / Sabe que nóis é o assunto”.
O rapper tem colaborações com artistas como Ludmilla, MC Ryan SP e MC Daniel, além de ser amigo de personalidades como Neymar e Pedro Scooby – foi convidado pelo jogador a estar em seu cruzeiro há um mês. Oruam reivindica o “direito de ser filho e sentir saudades do pai” com as homenagens, que começaram bem antes do fatídico festival em São Paulo. Mesmo dentro de um presídio de segurança máxima no Paraná, não custa lembrar, seu progenitor é apontado como líder da facção criminosa Comando Vermelho (CV), que espalha terror e medo pelas comunidades do Rio.
Aqui fora, o filho segue lançando tendências e conseguindo estrondoso espaço. Ostenta uma cabeleira peculiar, placas douradas na arcada dentária (chamadas de grillz) e tatoos controversas pelo corpo. Além do retrato de Marcinho VP no peito, mandou desenhar do mesmo lado o rosto de Elias Maluco, criminoso condenado pela morte do jornalista Tim Lopes, a quem chama de “tio”. Oruam não é o único artista na família. Sua irmã, Débora Gama, também enveredou ao mundo da música, tendo lançado um álbum, Amor inexplicável, em 2018.
Nas redes sociais, ele segue a mesma linha de outros rappers e funkeiros, que fazem da ostentação um acinte à própria sociedade do consumo que os oprime: exibe carros de luxo, roupas de grife em letras gigantes, relógios, tênis, bonés e outros bens. É uma forma de propagar, vencedor: “sim, nós também podemos”. Morador de um condomínio de mansões na Barra da Tijuca, possui um gato de estimação da raça Savannah, avaliado em mais de 100 mil reais, batizado de Malandrex. O bichado tem um adestrador que o ensina a dar saltos pelos sofás caros de sua ampla sala – tudo, claro, registrado para alegria dos seus mais de 7,9 milhões de seguidores.
Em seu perfil no Instagram, compartilha também registros de baladas com amigos. Quase sempre está acompanhado da namorada, a influenciadora Fernanda Valença, 23, com quem está ha cinco anos, ou seja, bem antes de toda essa fama chegar. Como diz uma de suas letras: “Não é porque eu sou artista que não posso amar/ Se eu tenho dinheiro é porque eu posso gastar”. Uma rajada de realidade atrás da outra.