Piada com deficiente físico tem graça? Ou melhor, ainda é tolerável? (Se é que algum dia foi?) A Netflix acha que sim, e no último dia 18 de novembro incluiu em seu catálogo “Amor Sem Medida”, longa em que uma pessoa com nanismo é utilizada para o humor com situações teoricamente cômicas, calcadas na diferença de estatura entre os protagonistas.
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Eles são vividos por Juliana Paes e Leandro Hassum, que foi “diminuído” através de computação gráfica para interpretar uma pessoa com a deficiência. Trata-se de um claro caso de “crip face”, termo usado para denominar a prática de empregar atores sem deficiência para viver deficientes, tirando a oportunidade de atores assumirem seu lugar de fala, e assim trazer representatividade para o cinema. “Não dá para aceitar isso”, indignou-se nas redes a atriz Juliana Caldas.
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Ela tem nanismo e diz que não se sentiu representada em momento algum nos 94 minutos de duração do longa dirigido por Ale McHaddo – muito pelo contrário. “A pessoa que faz o personagem com nanismo não tem nanismo e a maior parte do filme tem piadas capacitistas e preconceituosas”, disse.
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Diretor, roteirista e jornalista, Pedro Henrique França engrossou o coro e fez duras críticas a Amor Sem Medida. “É horroroso”, analisa o profissional, também portador de nanismo. “Fico me perguntando se existe um comitê de inclusão e diversidade na Netflix. Se existe, com certeza não há ninguém com deficiência. Um deficiente teria, no mínimo, emitido um alerta sobre os riscos de realizar uma produção como essa em 2021”.
Procurada por VEJA, a Netflix disse reconhecer que ainda tem “um caminho a percorrer” e reiterou o compromisso “em fazer com que mais pessoas se identifiquem e se sintam representadas” com suas histórias. “A comédia tem também o papel de levantar reflexões importantes”, afirmou a empresa, que esquivou-se das perguntas sobre o ‘crip face’ e também não respondeu sobre a existência – ou não – de um comitê de inclusão e diversidade.