Com o tema “O que vai acontecer já está acontecendo”, a TV Globo realizou a primeira edição do Festival Acontece, nesta quinta-feira, 11, com cerca de 500 profissionais do mercado audiovisual brasileiro, nos estúdios da emissora em Curicica, zona oeste do Rio de Janeiro. O evento, acompanhado pela coluna, contou com diversos painéis, além de apresentação de números e debates. Com destaque para o painel “IA e novas tecnologias” sobre inteligência artificial, que contou com a mediadora e jornalista Aline Midlej. Os convidados apontaram como a IA tem impactado em seus trabalhos.
Manoela Zozimo, coordenadora de pós-produção na Globo, destacou que as novas ferramentas têm usos variados como a otimização de processos mecânicos no catálogo de séries. “Hoje, já tem na Globoplay 40 episódios de séries feitas com audiodescrição, feitos 100% por inteligência artificial. Não seria possível sem IA, não nessa proporção, não nessa escala, não na quantidade que a gente tem que entregar. Uma coisa é olhar um programa, outra é toda uma grade. Outro exemplo é o áudio imersivo”, defendeu. Já Fernanda Jolo, Customer Engineering Leader for Artifial Intelligence no Google, reforçou um olhar comercial, com a facilidade para analisar padrões de consumo e entregar a melhor experiência para o cliente. George Moura, autor de séries de sucesso da TV Globo, disse que o uso da tecnologia serviu para auxiliar na construção de um sertão fiel nos Estúdios Globo – para sua produção mais recente, Guerreiros do Sol, que deve estrear em 2025. E Fábio Mendonça, diretor da O2 e que esteve à frente de Cangaço Novo, da Prime Video, reforçou as possibilidades de criar e imaginar novas possibilidades.
Mas muito além das questões tecnológicas que se avizinham, ou que já são realidade, há outros vieses a se pensar, A realização do festival tem como premissa “reforçar o compromisso da Globo com o setor audiovisual brasileiro”, como a própria divulgou. E isso ficou claro, por exemplo, em falas que enaltecem a “brasilidade” das narrativas que vão ao ar. Como maior produtora de conteúdo nacional e importante fomentadora do mercado independente, a empresa investe, anualmente, 5 bilhões de reais em conteúdo, direitos e tecnologia. Com mais de 33 mil horas de conteúdo inédito produzida por ano, a empresa quer manter um diálogo com mais de 170 produtoras independentes nacionais, de todos os tamanhos e de todas as regiões do país. E aí mora o desafio atual: diante do avanço de empresas de streaming, a TV Globo finalmente ganha um concorrente, ou concorrentes, à sua altura.
O que fica claro, com tantos painéis neste pioneiro evento, é um certo temor da emissora carioca de perder este protagonismo nas ações do mercado audiovisual, em franca expansão no país. Como ela vai conseguir manter a liderança, seguir abrangendo seus domínios para além da matriz tradicional da TV aberta e pôr em prática a palavra que mais ronda o discurso de seus dirigentes, a tal da “diversidade”? Eis o dilema de uma equação que precisa de uma resposta a curto prazo. Neste sentido, não há inteligência artificial que resolva. Só mesmo a natural.