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O polêmico bastidor envolvendo a candidatura de Cabo Daciolo ao Senado

Líder de direitos humanos, Ivanir dos Santos relata a VEJA por que desistiu da disputa no PDT

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 ago 2022, 12h20 - Publicado em 25 ago 2022, 08h00

Conselheiro estratégico do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas e interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa e pós-doutor em História Comparada pela UFRJ, o babalaô Ivanir dos Santos, 68 anos, diz que não abandonou a candidatura ao Senado por vontade própria. Em relato exclusivo à coluna, ele explica que tudo começou quando Brizola Neto foi a sua casa em janeiro e fez proposta para que se filiasse ao PDT, para disputar um cargo majoritário. Um mês depois, recebeu Carlos Lupi (presidente nacional do partido) numa feijoada. “Perguntei a ele o que que meu nome agregaria ao PDT. E ele disse: ‘Tudo. Você tem uma trajetória de 40 anos nos direitos humanos, na luta contra a intolerância religiosa e tem uma história pessoal interessante, porque veio de baixo e se tornou pós-doutor e professor na UFRJ’. Ele disse ainda: ‘Tô te convidando para fazer parte de um projeto nacional’”, relata.

Ivanir explicou ao dirigente que não seria deputado federal, mas se animava com a ideia de tentar o Senado. Semanas depois, Ciro Gomes foi a sua casa convidá-lo para ser seu coordenador do programa de governo na questão de direitos humanos. As conversas seguiram a cada quinze dias com Lupi. “Ele falava do papo que tinha com o União Brasil, com o Eduardo Paes, que o Paes não exigiu o Senado. Disse que mesmo que o União Brasil viesse, ele tentaria manter separado. E me perguntou se eu tinha algum problema com isso. Neguei”, continua.

Eis que surge Cabo Daciolo no meio das negociações, que até então parecia inclinado a se candidatar ao Senado por São Paulo. Dois dias depois da filiação de Ivanir ao partido, Daciolo veio de São Paulo avisando que sairia pelo Rio. “Até saiu na mídia como se fosse um conflito religioso entre nós dois (Daciolo é evangélico), não se tratava disso. Daciolo retirou a candidatura e ainda me deu um beijo no rosto. Brinquei: ‘Esse beijo é verdadeiro ou é de Judas?’”, diz o babalaô, que lançou então a pré-candidatura ao Senado num evento que contou com quase mil pessoas na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Mas o partido decidiu não oficializar a candidatura na convenção, levando a ideia à executiva. Foi quando Lupi chamou ele e Daciolo para uma conversa, propondo mandato compartilhado. Um ano antes, não custa lembrar, Ivanir fez proposta de mandato compartilhado com o rabino Nilton Bonder e o pastor Kleber Lucas. “Agora insistiram na parceria com Daciolo. Só que ele deu para trás, argumentando que não queria parceria comigo, porque eu tinha sido petista. Eu disse que não era argumento, saí do PT em 2010”.

Durante o impasse, Lupi pediu para que Ivanir conversasse com Daciolo. A conversa teria durado quatro horas, no aeroporto do Rio, de madrugada. No dia seguinte, Daciolo mudou de ideia. Aceitou mandato compartilhado. “Pedi só que me explicassem como uniriam dois perfis tão diferentes. Daciolo nunca falou nada de direitos humanos, já teve fala homofóbicas, defendeu assassinos em operação na Rocinha. Falei isso na frente dele”. Ivanir exigiu, por estes motivos, que fosse o cabeça de chapa no mandato compartilhado. Algo negado por Lupi, que teria dito que Ciro preferia Daciolo, por questão eleitoral. “Aí o Daciolo começa a chorar e diz a Lupi que abria mão da candidatura e que só queria um salário. Eu disse ao Lupi que eu represento uma causa, que não podia colocá-la nessa mesa de negociação sem sentido. Que ele tomasse a decisão que quisesse”. Segundo Ivanir, Lupi teria lhe oferecido mais uma vez a candidatura de deputado federal. Ivanir voltou a negar. “Sou militante antigo, só me interessa candidatura pela causa, por isso virei e disse ‘tô fora’. No dia 5 de agosto, chegou ao fim o tumulto em torno dessa possível candidatura.

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Se ficou mágoa com o partido e os envolvidos após idas e vindas? Ivanir é taxativo: “Não posso emprestar uma causa a uma pessoa que não tem compromisso com o tema, sem falar do fundamentalismo. E houve uma grande reação nas redes sociais, as pessoas ficaram tristes. Minha prioridade é a caminhada pela liberdade religiosa, tema central da eleição e para a democracia Brasileira. Basta ver o que a campanha do outro (Jair Bolsonaro) está fazendo. O erro do Daciolo é fazer um discurso religioso, não é civil”.

Em paralelo à disputa interna no PDT, outro partido de esquerda, o PT, luta para manter sólido o apoio em torno de André Ceciliano para o Senado (enquanto Alessandro Molon, do PSB, não abre mão da mesma vaga). De fora da arena eleitoral, Ivanir não pretende subir em palanques neste pleito. “O que eu mais fico triste é que as pessoas não têm projeto, é a disputa do poder pelo poder, o que é ruim para os progressistas. Tanto que a equação do PT é essa, você se iguala aos outros. Não adianta fazer campanha com os artistas e esquecer a base popular, que é onde se ganha a eleição. Nós tínhamos um projeto claro: pela democracia e liberdade religiosa”, lamenta.

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