Com Faustão cai um modelo de programas de auditório que teve seu auge na década de 1990, quando ele próprio dominou as tardes de domingo acompanhado de perto pelo já falecido Gugu Liberato, no SBT.
E sem Silvio Santos atuando em frente às câmeras, mas ainda tendo um inexpressivo Raul Gil em seu programa de sábado, a velha televisão brasileira fica órfã de suas típicas figuras masculinas, de vozeirões potentes, que animavam auditórios majoritariamente femininos na luta pelo melhor merchandising dos intervalos.
Nas sombras polifônicas de Chacrinha e Bolinha, Faustão surgiu no aumentativo, dando dimensão de sua grandeza televisiva, não só física, quando ainda ostentava mais de cem quilos. Queria ser e foi o maior apresentador dos domingos da TV Globo. Mas a TV, e não só a Globo, mudou. Suas dançarinas de maiô justíssimo já não faziam sentido ao fundo do cenário repleto de luzes neon. Muito menos quando elas dançavam ao som de jingles publicitárias no começo de cada atração (quem tem mais de 30 anos se lembra da musiquinha do banco Bamerindus). As caravanas animadas pareciam mais preocupadas com o Instagram do que eu ganhar produtos Bauducco. As videocassetadas já não tinham a mesma graça dos vídeos de tiktok.
Por muito tempo, o maior feito de Faustão foi fazer publicidade com cara de entretenimento, no sentido mais amplo do negócio, faturando cifras que o tornariam a pessoa mais bem paga da emissora carioca. Ao sair da Globo e ir para a Band, achou que seria capaz de manter a portentosa estrutura. A audiência, a essa altura, já estava dispersa.
Ao encerrar o programa na Globo, Jô Soares levou consigo seu talkshow das madrugadas. Surgiram outros, nenhum com sua fórmula de sapiência e humor. Hebe levou consigo seu acolhedor sofá das segundas-feiras. Faustão, agora, leva junto, sua irreverência ao fazer dos patrocinadores uma atração à parte.
Resta saber quem assume o vácuo histórico. O assistencialismo de Luciano Huck e a alegria efusiva de Marcos Mion estão no páreo.