Aos 50 anos, após dar um tempo nos trabalhos que o alçaram a galã na televisão, Reynaldo Gianecchini aceitou o convite de Bruno Fagundes, 34, de encarar seis horas em cima do palco debatendo tabus da homossexualidade, tema central da peça A Herança, sucesso de público e crítica em São Paulo que chega na próxima quinta-feira, 14, no teatro Clara Nunes, no Rio. Os atores estiveram no estúdio de VEJA GENTE para conversar sobre o novo desafio. Assista ao vídeo:
A seguir, os principais pontos levantados por Gianecchini no bate-papo:
MOCINHO COM MOCINHO. “A gente nunca teve histórias normalizadas, os relacionamentos gays. Sempre ficava essa discussão à parte. A nossa peça parte do ponto que são homens gays, bem resolvidos, é a história do mocinho com o mocinho, não com a mocinha. A gente normalizar as relações é o ponto da representatividade. A gente nunca teve casais gays que olhasse e falasse: ‘Olha que legal, é possível’.
SÓ COM CAMISINHA. “Meu personagem tem um trauma, tem uma dor. Ele viu as pessoas morrerem de aids na década de 1980, é dessa geração, então deu uma fechada no coração. Para interpretar isso, eu também tenho que olhar as minhas dores, entender que lugar meu é doloroso. Diferentemente do personagem, não vivi isso, sou da geração que, quando comecei a transar, já era estabelecido que tinha que ser com camisinha. A geração antes não, por isso tudo aconteceu. Foi terrível. Então, são mil gatilhos”.
12 HOMENS GAYS. “Adorei me aproximar de personagens LGBT’s, também sou uma daquelas letrinhas. Eu já cansei de falar sobre a minha sexualidade. Chega de falar sobre isso. Acho bonito falar, mas sinto que já falei bastante. Amei estar nessa peça com 12 homens gays, estar próximo e entender, cada vez mais”.
PATRIARCADO. “Ser homem no Brasil desde crianças é difícil, porque você geralmente é criado para ser um menino que tem que ser duro, bom no esporte, viril, que não pode chorar. Isso tudo, independentemente se você é da comunidade ou não, todo mundo traz uma dificuldade desse masculino. E a gente está revendo esse masculino, a masculinidade tóxica. Sempre fui muito sensível, fui criado por mulheres, em uma família de mulheres. Então sempre achei difícil viver nesse mundo masculino”.
S DE SIMPATIZANTE. “Aprendi que não é legal falar ‘simpatizante’. A gente está aprendendo mesmo. Essa palavra é excludente porque é como se te colocasse de fora daquilo. Mas eu me considero dentro. Usei a palavra errada, quis dizer que sou a favor da causa, estou dentro da causa. Tanto é que fazer essa peça para mim é a maior militância que eu poderia ter. Não é levantar bandeira, mas contar história. Sou daquela época que (a sigla) era GLS”.
DENTRO DO ARMÁRIO. “Acho estranho tentar colocar tudo em gaveta. Na vida, não só a sexualidade, porque os seres humanos são absolutamente diversos. E a comunidade LGBTQIAPN+ tem que ser ampla mesmo. Inclusive aquele que por enquanto não quer sair do armário, que também tem que ser acolhido. Ou que quer ser discreto”.
PAÍS DA REPRESSÃO. “A gente é um país ainda muito reprimido, isso é uma das coisas mais terríveis, mais causadoras de problemas. Somos sexualmente reprimidos. Por isso as pessoas querem cuidar da sexualidade alheia, saber se o ator é não sei o quê. Se você está reprimido, julga o outro, porque não quer olhar para sua direção. Em vez de querer saber da sexualidade do outro, faz uma lupa na sua sexualidade”.
SERVIÇO: ESTREIA PARTE 1: 14/9, às 20h / ESTREIA PARTE 2: 29/9, às 20h / ONDE: Teatro Clara Nunes, Shopping da Gávea – R. Marquês de São Vicente, 52, Gávea, RJ / Ingressos: R$ 50 (meia) a R$ 130 (inteira), Classificação: 18 anos PARTE 1 e PARTE 2 exibidas intercaladamente: PARTE 1: quintas e sábados, às 20h; PARTE 2: sextas, às 20h, e domingos, às 19h.
* O programa VEJA Gente é gravado diretamente do Casacor Rio, mostra de arquitetura e design que tem apoio da Editora Abril. O cenário foi desenvolvido pelo arquiteto João Amand e pela designer de interiores Sophia Abraham, com patrocínio da House Us.