Todas as correntes subterrâneas e a estranheza da fábula de 1883 do italiano Carlo Collodi emergem nesta adaptação do diretor Matteo Garrone, celebrizado por Gomorra mas íntimo da beleza perturbadora requerida ao gênero desde O Conto dos Contos (2015). Garrone usa a história do brinquedo de madeira criado por Geppetto (Roberto Benigni) para um comentário sobre como uma sociedade trata os corpos estranhos — no sentido literal e também metafórico do termo. É incômodo, mas belo e, às vezes, cômico. Para contar essa história, o diretor vale-se de um leque de recursos cênicos, da “maquiagem” em computação gráfica (o Pinóquio do menino Federico Ielapi é uma façanha) a próteses artesanais. Outro ponto alto é a fotografia magistral, que transforma quase em pintura as locações medievais. Já em cartaz no país.