(Good Time, Estados Unidos, 2017) Nick (Benny Safdie) tem dificuldade até com os exercícios mais simples que o terapeuta propõe: intelectualmente atrasado e emocionalmente paralisado, ele é um emaranhado de medos, vulnerabilidades e reações agressivas. Ainda assim, seu irmão Connie (Robert Pattinson) enxerga a tentativa de desenovelar essa confusão como uma invasão da complicada e miserável intimidade familiar deles, na qual se percebem indícios de abuso físico e psicológico. Arrastando Nick para fora da instituição psiquiátrica, Connie dá ao irmão um inesperado voto de confiança: faz com que ele ponha uma máscara para assaltarem, juntos, um banco em Nova York. Tudo sai terrivelmente errado, é claro: um marginal inteligente mas desorganizado e impulsivo, Connie fracassa em planejar mais que um lance adiante, e a cada passo é obrigado a se ajustar às calamidades que ele mesmo cria. Nick, que não consegue nem se explicar, é pego pela polícia e mandado para a detenção em Rikers Island enquanto aguarda o indiciamento. Connie acha que é preciso retirá-lo de lá com urgência, e durante toda uma noite ele vai conceber um plano atrás do outro para levantar dinheiro para a fiança, em um acúmulo desesperador de desastres. Quase todo filmado em closes fechadíssimos, com uma iluminação que deixa a ação repleta de zonas de sombras e num ritmo que reproduz o pesadelo infindável de Connie (no que a trilha sonora colabora de maneira exemplar), Bom Comportamento é cinema com maiúscula (foi indicado à Palma de Ouro no último Festival de Cannes) e um desses esforços de guerra em que jovens cineastas eventualmente se engajam: Benny Safdie, além de interpretar Nick, é co¬montador do filme e o dirige em parceria com seu irmão Josh Safdie — que, por sua vez, é também corroteirista. Mas o filme surpreendeu em Cannes pelo desempenho de Pattinson: desde que deixou o papel do vampiro romântico Edward Cullen na saga Crepúsculo, o ator inglês vem fazendo o possível para se desafiar e se aprimorar em produções independentes em que seu cacife de galã nada conta. Agora, depois de dois trabalhos com o diretor David Cronenberg e de várias outras investidas em papéis menores mas instigantes, Pattinson colhe os frutos do empenho. Em Bom Comportamento, ele dá tudo de si e mais um tanto. Pela primeira vez, pode ser considerado, sem reservas, um intérprete visceral.