Uma frase, em geral, basta para resumir qualquer um dos oito episódios de Tales from the Loop: uma mulher faz experimento com matéria desconhecida e desaparece, deixando sozinha a filha pequena; um rapaz troca de corpo com o amigo ao entrar em uma máquina abandonada e desfruta confortos que haviam estado sempre fora de seu alcance; uma garota suspende o tempo à sua volta para poder ficar com o namorado que a mãe desaprova; um homem encontra a si mesmo em um universo paralelo, levando a vida com que sempre sonhou. Mas o mais instigante desta série criada por Nathaniel Halpern, roteirista das excelentes Legião e Outcast, não é “o que”, e sim “como”: como os personagens — que em alguns episódios são coadjuvantes e em outros, protagonistas — reagem aos paradoxos e aos estranhos acontecimentos propiciados pela “Loop”, a máquina-laboratório construída no subsolo da cidadezinha por um físico visionário (Jonathan Pryce, de Dois Papas, em mais uma atuação soberba). Inspirada nas curiosas pinturas do sueco Simon Stalenhag, em que gigantescas criaturas e estruturas mecânicas modificam cenários bucólicos, a ambientação primorosamente concebida evoca uma cidade rural americana a um só tempo futurista e passadista: enormes robôs caminham pelas matas e vultos de aço sobressaem na paisagem, mas as casas são antiquadas, os celulares não existem e nos diners antiguinhos só se ouvem músicas da década de 50. De imediato, assim o espectador é lançado no território das múltiplas possibilidades. Além do visual tão marcante, do cuidado na escolha do elenco e do apuro da produção, no entanto, o que une todos os enredos é o sentimento de desamparo ou de desconexão que aflige cada um dos personagens e que, graças ao contexto tão inusitado, a série examina com novos olhos e a partir de novas perspectivas. O andamento, é verdade, é lento. Mas, para a parte do público que não se aborrece com isso, Tales from the Loop pode ser o tipo mais gratificante de ficção científica — o que provoca as pessoas com perguntas em vez de oferecer respostas.