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Mais viva que nunca

A novela continua campeã de audiência no Brasil — e no mundo

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h30 - Publicado em 3 jul 2022, 08h00

Quando eu tinha 17 anos, descobri que a telenovela “estava acabando”. Em uma revista séria, embaixo da foto de quatro atores, a pergunta: eles conseguirão salvar a novela? A novela era Véu de Noiva (1969-1970), de Janete Clair, na Globo, e até hoje é lembrada pelo sucesso. Gênero em extinção? A ser salvo? Estou com 70 anos, e a telenovela continua campeã de audiência. Prova disso é o sucesso de Pantanal — mais que merecido. Crise? Não. Como em todas as áreas do entretenimento, há produtos que dão certo e outros nem tanto. Só isso. Em 1950 aconteceu a primeira transmissão televisiva no Brasil. O cineasta Halder Gomes realizou, em 2013, o filme Cine Holliúdy, que depois virou série. Narrava a chegada da TV, nos anos 1970, a uma cidadezinha do interior do Ceará. E a crença de que o cinema acabaria. Bem, o anúncio da extinção do teatro ocorreu com a chegada do cinema. E do cinema, com a TV. Até o livro passou pela ameaça de desaparecer. Continua vivo, assim como o teatro, o cinema, a televisão e, óbvio, a novela. Sem falar que o amor pelos dramalhões pertence à nossa civilização. Mesmo os que viraram literatura. Dostoiévski, até mesmo Shakespeare, Thomas Hardy… todos conheciam as entranhas de um dramalhão. Que os intelectuais me apedrejem. Mas, quando é magnificamente bem escrito, o dramalhão se torna arte. Todo mundo passa a venerar. Simples assim.

A telenovela é, acredito, o gênero mais amado da TV. Mas, assim como tudo o que se torna popular no país, leva flechadas. Garantiram que o streaming acabaria com ela. Agora temos novela no streaming. Eu me orgulho de ter escrito a primeira novela do streaming, Verdades Secretas 2, para o Globoplay e também para a TV aberta, em que agora a trama será apresentada.

“Os mal-humorados teimam que o gênero está acabando. Enquanto isso, o público ri, chora e assiste emocionado”

Hoje em dia a informação é acelerada. A dramaturgia televisiva também ganhou velocidade. Beijo só no capítulo final, acabou! Acredito que as séries por streaming influenciaram as novelas, que se tornaram mais rápidas, ágeis. É o fenômeno da “serialização”. Nem é tão novo. Autores como Gloria Perez, João Emanuel Carneiro e, modéstia à parte, eu mesmo fazem isso há tempos. Uma trama importante pode ser resolvida no primeiro terço ou metade da novela, e outra renasce a partir da anterior.

Em contrapartida, a estrutura da novela também influenciou o streaming. O que são séries como This Is Us se não um novelaço pra ninguém botar defeito? Ganchos, viradas, situações dramáticas extremas… Há um diálogo entre a série e a telenovela que só fará bem ao público.

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A telenovela continua mais viva que nunca. México, Turquia, Coreia do Sul, Colômbia, Peru, Chile, Argentina, Portugal, China, Tailândia, Filipinas, Estados Unidos — todos esses países produzem telenovelas. Exportam para quem não faz.

Um grupo de mal-humorados teima que o gênero está acabando. Enquanto isso, o público ri, chora e assiste emocionado! Não só o Brasil. O mundo ama uma boa novela.

Publicado em VEJA de 6 de julho de 2022, edição nº 2796

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