Entro em uma feira de livros bastante concorrida. Lamentavelmente, não sou uma estrela. Nem um padre que faz lindos textos de autoajuda ou palestras que levam os corações aos céus. Também não discuto novos ângulos da política, que ensinam a olhar o mundo sob outra ótica, nem falo sobre nenhum assunto da moda, nem sobre a cor dos vestidos, o tamanho dos decotes e, sinceramente, não me sinto confortável para debater publicamente as questões de gênero que movem o mundo de hoje. Comigo é assim: cada um que curta o seu e ninguém tem nada com isso.
Por isso, levei um susto ao ver um grupo bem grande correr na minha direção de celulares erguidos, cantando uma música da moda. Mães, pais e filhos, deduzi pela faixa etária. Qual seria a conexão comigo? Na verdade, eu não era o alvo. Estava ao lado de outros autores convidados e as atenções se dirigiam a uma cantora que, ouvi dizer, estava lançando um livro com o tema da tal música.
Celebridade por tabela, preparei meu melhor sorriso, torcendo para nenhum dente balançar ou cair naquele momento inadequado. Não conhecia nenhum dos autores que estavam ao meu lado. E assinei, assinei, com dedicatórias genéricas: “Querida Bruna, espero que goste de desse livro”, “Amarildo, espero que…”, “Nina…”, “Spartucus…”. Houve um momento constrangedor quando troquei o nome de dois irmãozinhos, detalhes superáveis. Um homem se aproximou do fundo com cara de poucos amigos: “Quem é o senhor?”. Tentei responder: “Seja bem-vindo, mas está interrompendo a fila de autógrafos, eu souuuu….”. Não deu tempo de terminar. “Tenho certeza de que o senhor não é o senhor tal”, continuou reclamando ele. Em seguida, me mostrou um cartaz atrás da minha cadeira.
“Para aparecer a qualquer custo, melhor botar uma fantasia de lhama, como me sugeriu um amigo”
Na foto, um apresentador de televisão — o sucesso do momento, que acabara de lançar um livro para adolescentes — para minha inveja explícita, era bom e educativo. O livro que eu gostaria de escrever. Olhei e lá longe, bem longe, vi um grupinho de amigos meus. Um deles fazia sinais de volta. Finalmente, cansou de fazer sinais e se aproximou. Ao notar que quase ninguém dava bola para mim naquele momento, aconselhou-me: “Era melhor botar a melancia na cabeça e sair vestido de lhama”. E afastou-se, provavelmente para ninguém ver que nos conhecíamos.
Há eventos, como este, que nos levam a medir nosso grau de popularidade. No meu caso, era abaixo de zero. Melhor botar uma fantasia de lhama, como sugeriu o amigo. Hoje, é melhor se vestir de lhama que ser um anônimo. Seja criativo, invente outros looks. Ultimamente tem dado certo com festas de Halloween fora de época, inclusive. Mas são gestos desesperados.
Nem tudo é tão ruim assim, pensando bem. O pior é quando alguém faz aniversário e ninguém vem. Um vexame. Todo mundo corre o risco de comemorar a data sozinho ou de fracassar ao tentar organizar um simples encontro entre amigos para animar a vida, mesmo oferecendo open bar.
Se nem para um drinque grátis a turma aparece, o que fazer? Meu conselho: procure uma coleção de livros de autoajuda e decore uns dois ou três trechos. Vai servir de consolo para o fracasso do teste de popularidade.
Publicado em VEJA de 24 de novembro de 2023, edição nº 2869