Qual é o seu diagnóstico? Você ainda não sabe? Com certeza alguém já enfiou o dedo no seu nariz e apontou algum sintoma psicológico. É fato. Todo mundo subitamente dá diagnósticos e parece entender de sua saúde mental. Não estou dizendo que se deva evitar esses temas, nem mesmo que eu próprio esteja lá essas coisas mentalmente. Diagnóstico é bom para buscar um bom tratamento, se necessário. Agora, tenha a santa paciência! De repente, todo mundo é esquizofrênico, paranoico ou, principalmente, TDAH, que se tornou o diagnóstico mais falado dos últimos tempos — é claro que depois do narcisismo — e até já virou adjetivo recorrente em muitas conversas. Tentei entender do que se trata, não por sede de conhecimento, mas para também diagnosticar quem me cerca, já que hoje em dia parece impossível conviver sem um bom rótulo mental para aplicar à vida alheia. TDAH é, resumidamente, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade. Pouco, se lembrarmos que até um tempinho atrás a moda era descobrir quem era psicopata. Antes, aliás, eu tinha horror a essa palavra, pois me remetia a assassinatos sangrentos. Mas mudei após ler um artigo dizendo que, de acordo com estudos acadêmicos, o transtorno atinge uma em cada 100 pessoas. Só no Brasil seriam de 2 milhões a 4 milhões de psicopatas, nem todos ocupados em assassinar o próximo. Dizem que eles são mais charmosos, espertos e ótimos gerentes, diretores e CEOs, pois não hesitam em demitir 500 pessoas de uma vez, sem dor no coração (apenas como exemplo). Houve uma época em que fui tentar descobrir se era um psicopata. Conferi as características. Mas o primeiro cãozinho que me fez chorar provou que não. TDAH desconfio que eu seja. Minha mente voa para longe de vez em quando e sou do tipo que prefere acreditar que 2 mais 2 são 22. Na minha fala, tenho pausas dramáticas que fazem meus amigos se divertirem. Mas o fato é que nesses casos estou achando a conversa chata e divago pensando em outras coisas. Sinceramente, você que está me lendo acha que isso é TDAH? Ou tem muita gente enfadonha no mundo, na real?
“Em vez de crer num diagnóstico feito a torto e a direito, é melhor procurar um profissional sério”
Muita gente vive dizendo que é paranoica devido a medos, que tem transtorno obsessivo-compulsivo por tomar muitos banhos diariamente, não conseguir pisar em linhas. Eu mesmo já descobri que tenho TOC, mas não conto qual. Muita exposição. Mais fácil posar de sunga no Instagram (e olha que é difícil, devido à minha barriga.)
O fato é que, após a revolução industrial, veio a psicológica. A democratização dos diagnósticos, que fez todo mundo ter o seu. O que me assusta é que boa parte deles elimina a responsabilização. Ninguém mais é ruim. E, quando apronta uma pesada, a culpa é da mãe ou do pai que o traumatizou. Não está nada fácil para ninguém. Mas, em vez de acreditar num diagnóstico feito a torto e a direito, o melhor é procurar um profissional sério para, enfim, enxergar a luz no fim do túnel.
Publicado em VEJA de 19 de julho de 2024, edição nº 2902