Alegria ou caos? A polêmica em torno de animais de estimação no trabalho
Cães e outros pets podem aumentar a produtividade e trazer benefícios aos funcionários, mas também podem se tornar um problema
Certa vez, o bull terrier de Theodore Roosevelt perseguiu um embaixador francês. Comander, o pastor alemão do presidente Joe Biden, teve que ser banido após morder repetidamente oficiais do Serviço Secreto dos Estados Unidos. Gavin Williamson, um político britânico, recusou-se a tirar a tarântula Cronos, que mantinha em um tanque de vidro do escritório, insistindo que o “assassino limpo e implacável” era “parte da equipe”.
Não é de hoje que animais de estimação, mais comuns os cães do que aranhas, são bem-vindos em locais de trabalho. O próprio Google afirma que a “afeição por nossos amigos caninos é uma faceta integral da nossa cultura corporativa”. Algo potencializado pela pandemia da Covid-19, já que os donos passaram a trabalhar em home office.
Por isso, hoje em dia, se tornaram comuns as buscas por escritórios que aceitem animais de estimação. Nos Estados Unidos, uma em cada cinco famílias adquiriu um pet durante os lockdowns; e dois terços têm pelo menos um. Para aqueles que trabalham em casa, um cão é um companheiro confiável entre (ou durante) as chamadas do Zoom, além de uma desculpa para se exercitar. Já muitos que precisam ir ao escritório, não querem deixá-los sozinhos – e hotéis para cães é assustadoramente caro. Coisas que deixam as empresas sob crescente pressão para deixá-los entrar. A questão, porém, é: quão acolhedores devem ser?
Benefícios e Problemas
Exceto em salas de cirurgia ou fábricas de salsichas, há benefícios em se permitir animais de estimação nos locais de trabalho. Eles podem, por exemplo, atuar como uma ferramenta de recrutamento já que alguns donos especialmente afetuosos admitem que deixariam seus empregos de tempo integral para passar mais tempo com seus amigos peludos. Ou seja, deixar as pessoas levarem seus pets pode ser uma boa maneira de atrair os trabalhadores a passar mais tempo no escritório.
Os bichos também podem aumentar a moral e a produtividade – não apenas os de seus donos, mas de outras pessoas. Estudos sugerem que os funcionários são mais propensos a perceber uma equipe como amigável se houver um cachorro nas proximidades. Ou seja, pode até render colaborações frutíferas em toda a empresa.
O problema para os líderes, no entanto, é que algumas pessoas não gostam de cães – podem ser alérgicas ou especialmente sensíveis a cheiros e sons caninos; ou apenas preferir gatos. Também existe a questão de que nem todos os cães são treinados para frequentar um escritório: aqueles deixados sem supervisão podem mastigar os pertences dos colegas de trabalho ou fazer bagunça no carpete.
O que fazer?
Restrições podem não agradar o dono do cão. No outro extremo, algumas grandes empresas como a HSBC instituíram políticas de proibição de pets nos últimos anos. O ideal, contudo, é buscar um meio termo. O Google, por exemplo, proíbe os chamados “Dooglers”, funcionários com cães, de trazer cachorros barulhentos, além de limitar suas incursões em locais onde existam pessoas alérgicas. Outras regras devem incluir, por exemplo, a proibição de raças perigosas e a garantia que sejam vacinados e treinados para conviverem com pessoas. Algumas áreas podem ainda ser designadas como zonas livres para cães, desde que acordadas entre os funcionários.
Essa abordagem, contudo, só funciona se as pessoas se sentirem a vontade para falar quando estiverem desconfortáveis, sabendo que seus chefes agirão de acordo. E essa autonomia importa tanto para os donos de cães quanto para seus colegas. Uma pesquisa com feita em 2021, pela Nova School of Business and Economics, em Portugal, sugere que levar um animal de estimação para o escritório pode se tornar um fardo se os funcionários não tiverem liberdade para decidir quando podem fazer pausas no trabalho ou falar sobre o assunto.
Abrir o escritório para cães e pets pode parecer uma maneira fácil de fazer o local de trabalho parecer mais flexível. Mas, na verdade, é preciso um local de trabalho flexível para que uma abordagem dog-friendly tenha sucesso.