“Envelhecer é uma festa”, diz influenciadora digital de 81 anos
Gilda Bandeira de Mello pauta sua vida pelo bom humor
Sou Gilda por causa de uma ópera, o Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Mas costumo dizer que, depois da morte de Rita Hayworth (atriz que viveu a personagem no cinema), nunca houve outra mulher como Gilda. Apenas eu! Sabe que já até gravei uma cena com vestido preto, luva e peruca, reproduzindo aquela cena icônica? É que fui figurinista de novelas durante 23 anos no SBT e tenho mania de guardar as coisas. Eu me meto nessas situações hilárias para gravar e tocar a vida de influenciadora, junto com a minha amiga Sonia, de 85 anos, e até pouco tempo atrás com a Helena, de 94, no nosso canal Avós da Razão (são mais de 90 000 seguidores no YouTube e 242 000 fãs no Instagram). Até livro já publicamos (Avós da Razão: Quebrando a Cristaleira! acaba de sair pela Editora Planeta). Nosso segredo? O bom humor.
É o que falo para as pessoas e é como escolhi viver. O etarismo existe, mas essa é a melhor forma de enfrentar o preconceito, bem como todas as restrições que a velhice nos impõe, em especial depois dos 70 anos. Porque não tem jeito, dói tudo. Estou com 81 e, pessoalmente, nunca passei por algum episódio de agressão verbal. Mas também não deixo. É claro que você nota os olhares dos outros, mas, se não gosta, não olha, né? Eu vou à praia de biquíni e sou gordinha. Não estou nem aí se olham e julgam. É uma questão de posicionamento: não vou deixar meu conforto de lado para ficar à mercê da sociedade. Desde a década de 90, tenho uma mecha roxa no cabelo. Eu gosto, me faz sentir bem, então continuo com ela. Também tenho tatuagem de mandala, e adoro. O que eu não permito? Que tentem infantilizar o velho. As pessoas têm nome, não nominho. Vão a uma loja experimentar um sapato, não um sapatinho.
Para envelhecer bem, a gente tem de investir em si mesma. Tem de tomar as vacinas, tem de fazer exames, tem de praticar atividade física… Confesso que não sou muito fã de exercícios e, desde que quebrei o fêmur, ando meio em falta, mas, se tem algo que eu respeito religiosamente, é a minha fisioterapia. É claro que a idade traz restrições. Todo mundo passa por coisas que só por Deus… Mas a gente tem de enfrentar a vida com alegria, não se render à tristeza e ao amargor. Foi assim que venci um câncer de pele e ajudei meu filho a superar um câncer de rim.
Duas coisas de extrema importância: ter uma ocupação e se relacionar com gente alto-astral. Quando você fala em aposentadoria, quer dizer que a pessoa tem de ficar em um aposento esperando alguém cuidar dela? Não, não pode. Estamos vivendo mais. Se acharmos que uma pessoa com 60 anos é velha, então vai passar mais 30 anos enfurnada em casa esperando o quê? É por isso que nosso livro se chama Quebrando a Cristaleira!. Precisamos tirar essa gente de casa. Foi assim que resolvi apostar nesse trabalho com a internet. A ideia veio com as amigas. A gente gosta de beber socialmente nos fins de semana. Quando me separei, aos 41 anos, embora meu ex-marido fosse maravilhoso, não queria depender dele. Então fui trabalhar de figurinista na TV, tentei trabalhar com cozinha industrial…
E, mesmo sem saber mexer direito com redes sociais, resolvi, sempre com as amigas, abrir um canal no YouTube. Uma colega e produtora nos inscreveu num programa de aceleração da plataforma e nosso projeto ficou em primeiro lugar. Agora estamos aí como influenciadoras. E, ao contrário do que pensam, não falamos só com jovem, não. É para todo mundo! Tem muita gente mais velha que fica nessa: “Ah, eu não sei…”. Então aprende! Como a gente fez. Do jeito que sou exibida, estou adorando. Depois de anos nos bastidores, agora sou uma estrela. Eu sempre digo para os mais novos: a gente quer e vai envelhecer, até porque a outra opção é ruim, né? A vida é uma festa, e deve ser aproveitada.
Gilda Bandeira de Mello em depoimento dado a Simone Blanes
Publicado em VEJA de 3 de maio de 2023, edição nº 2839