Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Londres e Paris travam uma briga das boas na cultura

A capital do Reino Unido saiu na frente em número de instituições culturais. Ferida nos brios, a francesa corre para recuperar sua histórica primazia

Por Duda Gomes Atualizado em 4 jun 2024, 12h17 - Publicado em 4 set 2022, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Na cronologia da cultura como mola propulsora e fonte de inspiração de todos os avanços da humanidade, Paris tem lugar de honra: foi na capital francesa que a difusão cultural nasceu e floresceu, estimulada por um ambiente amplamente receptivo às artes e à academia. Neste século XXI, porém, enquanto a cena parisiense meio que seguia em piloto automático — muito embora seu curso abarque atrações como o extraordinário Louvre, o museu mais popular do mundo, com 2,8 milhões de visitantes por ano —, a rival Londres, sede da Olimpíada de 2012 e tomada pelo frenesi criativo que acompanha a competição, pôs-se a abrir museus e galerias a torto e a direito. Resultado: tem hoje 170 (aí incluídas as casas de leilão de arte), quarenta a mais do que Paris. Sacudida da letargia diante da inaceitável proeminência londrina, a capital da França, ela própria em frenéticos preparativos para seus Jogos Olímpicos em 2024, vem inaugurando ou reinaugurando centros culturais em velocidade inédita — uma briga em que todo mundo só tem a ganhar.

    O ponto de partida da reação de Paris foi a inauguração, em 2014, da Fundação Louis Vuitton, museu bancado pelo dono do conglomerado de luxo LVMH e homem mais rico da França, Bernard Arnault, instalado em um espetacular prédio no Bois de Boulogne que lembra um barco a vela e foi projetado pelo arquiteto-estrela Frank Gehry. Mexido em seus brios, o maior rival de Arnault, François Pinault, proprietário do Kering, outro grupo de marcas luxuosas, criou seu próprio museu, o Bourse de Commerce, no histórico e desativado prédio da bolsa de valores. Mais recentemente, o Carnavalet e o Cluny, fechados há anos para reformas, foram reabertos em todo o seu esplendor e outros dois museus novinhos — o Hôtel de la Marine, instalado em um magnífico edifício do século XVIII na Place de la Concorde, e a Fundação Pernod Ricard, dedicado à arte contemporânea — abriram suas portas.

    REAGINDO - Hôtel de La Marine: o prédio do século XVIII, totalmente restaurado, está entre as novas atrações parisienses -
    REAGINDO - Hôtel de La Marine: o prédio do século XVIII, totalmente restaurado, está entre as novas atrações parisienses – (Vincent Isorex/Fotoarena/.)

    A rixa entre cidades próximas é comum e esperada: envolve Rio de Janeiro e São Paulo, Nova York e Los Angeles, Madri e Barcelona e inúmeras outras em todos os cantos do planeta. Mas a rivalidade entre Paris e Londres é tão antiga quanto a sua ascensão à sede de reinos poderosos. Na Idade Média, os respectivos soberanos engalfinharam-se na Guerra dos Cem Anos (vitória da França). No século XVIII, a Guerra dos Sete Anos se encerrou com o Reino Unido levando a melhor e abrindo as portas de seu “império onde o sol não se põe”. “Os dois países viviam em constante batalha por territórios. Da Europa a disputa imperial se transferiu para o Caribe e América do Norte e, mais tarde, para a África, com destaque para o Egito”, explica Daniel Gomes de Carvalho, professor de história da UnB.

    Franceses e britânicos só viriam a se unir para se contrapor à Alemanha na I Guerra, inaugurando enfim uma trégua militar e política permanente. Na área cultural, porém, a paz nunca se instalou de verdade. A academia francesa seguiu ditando as normas, não só por Paris ser o berço da manifestação artística menos dependente de patronos, mas também pela forte cultura de apreciação de arte pela população em geral, e não só pelas elites. Londres conseguiu enfim quebrar esse monopólio, e Paris agora corre em busca do tempo perdido.

    Continua após a publicidade

    arte Paris / Londres

    O apogeu da renovação cultural parisiense deve ser a reabertura em grande estilo, em 2024, da Catedral de Notre-Dame, totalmente recuperada após um incêndio em 2019. Londres, enquanto isso, segue na vanguarda em número de centros de cultura e na indústria da música, embora tenha perdido a liderança no comércio de obras de arte: de acordo com o UBS Global Art Market Report de 2022, o Reino Unido está em terceiro lugar, atrás de Estados Unidos e da China, tendo fechado 2021 com faturamento de 11,3 bilhões de dólares.

    Mesmo atrás no ranking, Londres não perdeu a majestade. “É lá que ainda surgem os lances mais valiosos no campo das artes plásticas. Só neste ano, vendemos uma obra-prima de René Magritte por 59,4 milhões de libras e um retrato de Francis Bacon por 43,4 milhões de libras, entre os dez valores mais altos jamais alcançados por uma pintura nos leilões londrinos”, diz Katia Mindlin Leite-Barbosa, presidente da Sotheby’s Brasil. Paris, também aí, tem tudo para contabilizar um expressivo avanço: o Brexit impôs maior taxação no comércio entre Reino Unido e União Europeia e fez pipocar novas casas de leilão e galerias na França. Enquanto isso, a luta para ver quem divulga mais cultura continua. Que seja longa e animada.

    Publicado em VEJA de 7 de setembro de 2022, edição nº 2805

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.