A estilista Coco Chanel, referência incontornável no mundo da moda, sentenciou certa vez: “Luxo é tudo aquilo que não se vê”. Talvez venha daí a inspiração para um fenômeno que, sem gerar tanto alarde, agora está ditando os looks de homens e mulheres. É o quiet luxury, expressão inglesa que pode ser traduzida como “luxo silencioso”. Ele prega um minimalismo sofisticado, com vestuário que chama atenção pela sobriedade do design e pela qualidade dos tecidos. Nada de cores vibrantes nem de logos em evidência, mesmo os de grifes caríssimas. Pelo contrário, a moda é básica. Mas daquele básico que exala ares de milionários.
A tendência ecoa nas passarelas, nas redes sociais e nas ruas do circuito fashion. Parte da premissa de que as roupas não precisam gritar por aí o que seus donos têm ou deixam de ter. Tanto é que esse estilo não está reservado àquele grupo que pode gastar cinco dígitos com o armário. Pelo contrário, já existem marcas e estilistas trabalhando com propostas mais acessíveis para quem aspira ao novo elegante. Inclusive porque o quiet luxury investe na durabilidade e na sustentabilidade das peças, o que lhe empresta um verniz atual e conectado às questões sociais e ambientais.
De fato, ele firmou pé nas últimas semanas internacionais de moda e nos desfiles de grifes como Loewe, Saint Laurent e Brunello Cucinelli, em que o espetáculo deu espaço à discrição, protagonizada por roupas versáteis, sem estampas e com tons e formatos sóbrios. “O clima de riqueza se solidificou com as marcas se inclinando para uma sensibilidade mais clássica”, afirmou Jodi Kahn, VP da companhia de luxo Neiman Marcus. Com raízes na Era Dourada do século XIX, quando surgiram os ternos escuros dos industriais — os discretos uniformes do poder capitalista —, o luxo sem excessos hoje conquista as celebridades.
A atriz Gwyneth Paltrow (exemplo de elegância minimalista que não vem de hoje, diga-se) atraiu flashes e comentários ao utilizar luxuosos suéteres de caxemira da Prada e botas de cores neutras da Celine durante a semana que prestou depoimento em um tribunal americano. Ela venceu o processo, livrando-se das acusações que lhe eram atribuídas em um acidente de esqui, mas roubou a cena mesmo com suas vestes singelas e poderosas. As telas, evidentemente, ajudam a amplificar a tendência. Só no TikTok, a hashtag #QuietLuxury recebeu 60 milhões de visualizações nas últimas semanas. Bombou também graças à estreia da quarta temporada da série de TV Sucession, que retrata uma família multimilionária que controla um conglomerado de mídia. Só de bater os olhos nos personagens dá para perceber que o dinheiro é abundante entre eles.
E a moda, claro, é abraçada fora da ficção. Depois de vestir cores, desenhos e logos nos posts publicados durante a pandemia, as pessoas estão caindo na real. Desgastadas com a vida entre telas e uma economia instável, estão valorizando o que verdadeiramente importa, na visão do consultor especialista em luxo Robert Burke. “O quiet luxury é escorado numa ideia de longevidade, segurança e estabilidade”, diz a empresária Francesca Manfrinatti, dona da marca brasileira Francesca. Ou, citando outra máxima de Coco Chanel: luxo pode ser simplesmente “ter uma roupa bem-feita”.
Publicado em VEJA de 3 de maio de 2023, edição nº 2839