Luxuosas redes hoteleiras começam a espetar suas bandeiras em embarcações
Elas cruzam mares e oferecem experiências cheias de paparicos e vistas deslumbrantes
Quando o poeta português Fernando Pessoa escreveu que navegar era preciso, noutro tempo e contexto, jamais imaginaria que singrar os sete mares seria um dia possível a bordo de embarcações onde se agitam bandeiras de alguns dos hotéis mais luxuosos do planeta. Pois essa é uma nova fronteira aberta por grifes que primam por mimos e sofisticação, agora oferecidos sobre águas que cortam paisagens paradisíacas e inalcançáveis a pé ou de carro. “Se uma pessoa está acostumada a se hospedar em uma determinada rede, ela o faz em todos os lugares do mundo. No mar, não será diferente”, diz Ilan Wallach, sócio da GSP Atlanta Travel e integrante do Grupo Virtuoso, composto de agências de viagens especializadas no turismo de alto luxo.
Marcas como Ritz-Carlton, Four Seasons e Belmond estão investindo firme na nova modalidade. O Ritz-Carlton, pioneiro na área, pôs para flutuar em outubro o Evrima, um aquático hotel cinco-estrelas de 623 pés projetado pela empresa de arquitetura sueca Tillberg. Com capacidade para 298 passageiros, o navio de design elegante e contemporâneo possui 149 suítes dúplex com terraço privativo e janelas do chão ao teto que proporcionam estonteante vista panorâmica. Além dos equipamentos esperados — piscina, boate, adega —, o barco conta com um restaurante comandado pelo chef Sven Elverfeld, do restaurante alemão Aqua, condecorado com três estrelas Michelin. A experiência no atendimento é a mesma oferecida em qualquer uma das unidades do Ritz-Carlton, o que inclui um concierge pessoal para pedidos que podem oscilar de um café à organização de excursões em terra.
Os preços partem de 33 000 reais para uma semana de flutuação no bem-bom e variam de acordo com o roteiro. As primeiras viagens foram de Barcelona, na Espanha, a Nice, na França, com paradas em portos menores que as linhas de cruzeiro convencionais não conseguem atender — entre elas, Mykonos, na Grécia, Saint-Tropez, na França, e St. Barths, no Caribe. O grupo apostará ainda em dois navios um pouco maiores, cada qual com 228 suítes, previstos para estar em plena atividade até 2025.
Logo se avistará concorrência em alto-mar, com o ingresso do Four Seasons nesse novo e ascendente mercado. A Four Seasons Yachts dará a partida com três navios que comportarão de 112 a 196 passageiros. A primeira embarcação, de 679 pés, com planos de ser lançada no fim de 2025, vai dispor de catorze deques e 96 suítes personalizadas para satisfazer o gosto de cada tripulante. Com cinco restaurantes, uma piscina na popa e plataformas para criar clubes de praia e uma base para esportes aquáticos, a embarcação possuirá também um enorme deque que abrigará uma sala de cinema ao ar livre e um spa. “Vamos oferecer experiências únicas acompanhadas de serviço incomparável a nossos hóspedes”, promete Christian Clerc, presidente do Four Seasons Hotels and Resorts, ao anunciar a entrada da grife nesse nicho em que se vislumbram tantos horizontes. As primeiras rotas se voltarão para as águas esverdeadas do Caribe e o Mar Mediterrâneo.
Pequenos barcos oferecem outro tipo de vivência a bordo, um segmento que será explorado pela bandeira Belmond, parte do conglomerado de luxo LVMH. A ideia ali é ter no cardápio viagens customizadas para grupos reduzidos acomodados em embarcações de duas a seis cabines. Uma delas vai zarpar para a encantadora região francesa de Champagne, serpenteando os rios que a cortam. Sim, aí será preciso caminhar um pouco — e certamente ninguém vai reclamar. O passeio contempla andanças pelos vinhedos e degustação na Maison Ruinart, a mais antiga casa de champanhe do mundo. Depois, é voltar ao barco e se deixar embalar pelo dolce far niente. Como se vê, o vocábulo navegar ganhou múltiplos significados.
Publicado em VEJA de 21 de dezembro de 2022, edição nº 2820