Inaugurado no fim de fevereiro em Dubai, o Museu do Futuro não demorou para se tornar uma maravilha do século XXI, celebrado como um dos mais belos museus em atividade. O xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum, vice-presidente e primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, foi ainda mais longe e tuitou com pegada superlativa: “É o edifício mais bonito do mundo”. Al Maktoum é suspeito. A imponente construção de fibra e aço de formato insólito — toroide, no jargão matemático —, como se fosse um doce em forma de rosca, traz gravadas em árabe poesias de sua autoria. Em uma das citações, lê-se: “Podemos não viver por centenas de anos, mas os produtos de nossa criatividade podem deixar um legado muito depois de nossa partida. O futuro pertence a quem pode imaginá-lo, projetá-lo e executá-lo. Não é algo que você espera, mas cria”.
O museu foi concebido como uma janela com vista para o mundo daqui a cinquenta anos, mostrando como soluções tecnológicas de ponta poderão melhorar e tornar mais segura a vida humana na Terra. Está localizado perto do chamado Boulevard, onde fica o complexo Emirates Towers, um dos cartões-postais de Dubai, e tem como objetivo proporcionar aos visitantes uma viagem no tempo, como nos melhores filmes e séries de ficção científica. O estúdio local de arquitetura Killa Design projetou o monumental edifício com 77 metros de altura e cerca de 30 000 metros quadrados de área construída. A fachada é feita de aço inoxidável e composta de mais de 1 000 peças fabricadas em 3D, com garantia de processos livres de emissões de carbono. São cinco andares de exposição e um reservado à administração, sobre um pódio de três andares e um deque, onde ficam o auditório, lojas, estacionamento e serviços.
Os pisos de 1 a 5 são dedicados às exposições. Três incluem experiências imersivas, com foco no espaço sideral, ecossistemas e bioengenharia, saúde e bem-estar. Outro é dedicado às tecnologias do futuro que lidam com água, alimentos, transporte e energia. O último espaço estimula as crianças a pensar soluções para tornar o mundo um lugar melhor.
A ideia da experiência imersiva permeia todo o museu. Os visitantes, que pagam cerca de 40 dólares pela entrada, começam pegando um elevador que os levará para uma “estação espacial”. No caminho, uma janela mostra a Terra se afastando e constata-se que o planeta está doente. Cada um dos participantes recebe um papel, seja como médico ou cientista, e propõe suas próprias soluções.
Além de ambicionar ser uma janela para o futuro, o novo museu e mais recente joia arquitetônica de Dubai faz parte de um projeto de transformá-la em uma cidade moderna e inclusiva, ainda que os Emirados Árabes Unidos sejam vistos como um país tradicionalmente conservador e autoritário. Primeira nação do Oriente Médio a sediar a Feira Mundial, também vem sendo apontada como um dos mais liberais do Golfo, com tolerância a outras culturas e crenças.
Ao mesmo tempo que busca transformar entretenimento em conscientização sobre o futuro da humanidade, o Museu do Futuro vive a contradição de estar em uma das cidades mais ricas do mundo, em um país cuja principal riqueza vem da produção de combustível fóssil. “Abordar as mudanças climáticas e sustentabilidade não significa que você tenha de voltar à era dos grupos caçadores e coletores”, diz Brendan McGetrick, diretor criativo do espaço. Dentro de seu escopo, o museu estimula a pensar no que é possível fazer agora e transformar isso em ação. O planeta agradece.
Publicado em VEJA de 16 de março de 2022, edição nº 2780