Quando se fala em agronegócio, é normal pensarmos em pessoas que trabalham na área rural, munidas de botas e chapéu. Mesmo entre as mulheres. Mas não é bem assim. Um dos setores que mais registra crescimento do PIB no Brasil – em 2022, gerou 27% – o agro tem muitas profissões fora do campo, em especial quando se trata das mulheres, que a cada ano crescem suas participações na área, assumindo papéis de destaque com suas visões estratégicas e novos estilos de gestão. Foi o que se viu no 7° Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, que nos dias 26 e 27 de outubro, recebeu mais de 2.500 mulheres no Expo Transamérica, em São Paulo. E entre elas, uma em especial chamava a atenção, não só pelo look verde cheio de brilho, mas por ser uma espécie de “musa agro”, com quem todas queriam conversar e tirar fotos. Trata-se de Pryscilla Paiva, âncora do jornal Mercado & Cia, do Canal Rural, que desde 2020, também assumiu o comando do evento.
Você é jornalista que começou como moça do tempo e se especializou em agronegócio. Por que resolveu seguir essa linha?
Pryscilla Paiva: Porque o clima é um pilar muito forte da agricultura, é fundamental para o agronegócio, então acabou sendo um caminho natural para mim. A chuva, por exemplo, é um insumo que o produtor não pode comprar então ele precisa saber sobre isso e como atuo na área de meteorologia há mais de 20 anos, segui essa linha ao entrar no Canal Rural, onde estou há 10 anos.
E foi escolhida para apresentar esse congresso, que é bem representativo entre as mulheres do agro. Se considera uma mulher do agro?
Comecei a apresentar o congresso na quinta edição, em 2020, em versão online por causa da pandemia. Esse ano foi a primeira vez de forma presencial, com mais de 2500 mulheres vindas de toda a América Latina. Ali, no meio de toda aquela troca de energia, percebi que sim, sou uma mulher do agro, e tenho muito orgulho de estar nessa área pela grande importância que representa. Durante a pandemia, o agronegócio foi o único setor que fechou positivo porque as pessoas não podem parar de comer. Então o agro não parou, e assim como os profissionais dessa área não pararam de produzir alimentos, eu também não parei de produzir as informações que precisam para isso. Sendo apresentadora, tive que trabalhar presencialmente durante a pandemia, mas mesmo com medo, eu cumpri e por isso, digo que sim, faço parte do agro.
Qual o papel da mulher no agronegócio hoje? Por que é tão importante, na sua opinião?
A mulher agrega força e sensibilidade a esse mercado porque querendo ou não, é ela quem coloca a comida na mesa para o filho, por exemplo. Então, quando gerenciar uma fazenda, vai lidar de uma forma mais sensível, como se fosse uma família. Escutei muito isso durante o congresso, a preocupação delas com as funcionárias, se os filhos estão comendo, estudando, porque entendem que se estiverem menos preocupadas com os filhos, por exemplo, serão mais produtivas. É uma forma sustentável de pensar e agir, muito importante para o agro. Hoje, elas são uma classe poderosa que enfrentou muitos paradigmas para chegar até aqui. Graças também à tecnologia e automatização. Tem muita mulher operando trator cor-de-rosa. Da minha parte, é uma responsabilidade representar a força dessas mulheres.
Mas o agro ainda é muito machista…
Sim, existe machismo, é claro, como a maior parte de outros ambientes de trabalho. Não são todos os homens, em eventos que faço pelo Brasil, existem muitos casais que andam lado a lado, existem aqueles que são grandes incentivadores das mulheres, mas é claro que também têm aqueles que continuam com posições machistas e criando situações desnecessárias.
Já presenciou alguma situação assim?
Já. Uma vez estava observando uma roda de conversa de mulheres do agro após um evento, quando um homem chegou e jogou milho no meio delas, no sentido de dizer, que estavam ali “cacarejando” como galinhas. Achei aquilo extremamente desagradável, intolerável, aliás. Mas na maior parte do tempo, existe respeito nesses eventos que faço pelo Brasil todo, até porque as mulheres estão se empoderando cada vez mais.
Você é tratada como uma verdadeira celebridade nesse meio. Como é ser tão requisitada?
É muito gratificante. Faço questão de atender a todos que querem conversar ou tirar fotos. Mesmo nos meus intervalos, porque como jornalista, gosto de contar, mas de também ouvir histórias. Aprendo muito com essas pessoas, que me tratam muito bem. Na Bahia, por exemplo, vou muito para Luís Eduardo Magalhães, um grande polo de produção de soja, milho e algodão, e quando chego lá, todas querem me levar para a casa delas, no salão de cabeleireiro, me sinto lisonjeada com tanto carinho.
No Congresso, parecia uma musa do agro de tantas pessoas querendo fotos. Alguma história te marcou?
Acho que tirei mais fotos lá do que no dia do meu casamento (risos). Sim, teve a história de uma mãe e filha, Clotilde e Érika, que me acompanharam online no congresso de 2020, quando eu contei em um momento sobre o desafio profissional que tive em 2005, quando ao mesmo tempo que estreei em um jornal, na Bandeirantes, perdi meu pai, que não chegou a me ver na televisão. Elas se identificaram comigo e fizeram uma promessa de me conhecer. Clotilde veio ao congresso este ano, me contou e disse que estava cumprindo a promessa por ela e por sua filha, que nesse meio tempo, infelizmente faleceu em um acidente de carro. Me tocou muito, espero encontrá-la outras vezes.
Outra coisa que as mulheres se identificaram muito foi com a roupa que estava vestindo, um macacão verde, cheio de brilhos…
Sim. Ainda se tem aquele estereótipo das mulheres de chapéu e bota no meio do agro, mas não é assim. Se engana quem também pensa que elas vivem de camiseta e cheias de barro. Escolhi esse look para representar o brilho dessas mulheres, e o verde, que é a cor do agro. Elas adoraram porque entenderam a mensagem e porque gostam muito de roupas bonitas e com brilho (risos). Tem muito poder feminino no agronegócio e no meio da lavoura.
Falando em poder feminino, as mulheres também estão dominando o agro na política, não é?
É verdade. Elas têm ganhado muita relevância. Já tive a oportunidade de conhecer e participar de eventos com a Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura e agora senadora eleita de Mato Grosso do Sul. E agora também com a Simone Tebet, que é ligada ao agro e ganhou muita repercussão nas últimas eleições. Como uma comunicadora do agro, fico muito feliz em termos essa representatividade feminina na política ligada ao agronegócio. Também temos outras mulheres importantes para esse movimento político no agro como a Teka Vendramini, atual presidente da Sociedade Rural Brasileira, que foi a primeira mulher a presidir em 100 anos.
Se considera feminista?
Sou feminista, mas não extremista porque os extremos não se conversam. Sou mãe de um menino, que eu crio para ser um homem que tenha respeito com as mulheres. Acho que essa é a minha maior missão, mas sinto que é mais fácil mudar a cabeça da nova geração que já vem mais consciente e conectada com esse movimento e isso é muito bom. Homens e mulheres tem que andar lado a lado. Nós também precisamos da força deles para um bem comum, mas jamais para nos acuar, coibir ou calar.