Valéria Goettert: “Nunca imaginei que desfilaria para a Rihanna”
Grande revelação das passarelas, a gaúcha de apenas 19 anos foi destaque ao trabalhar para a grife de alta-costura Christian Dior na Semana de Moda de Paris
Como foi estrear em um desfile tão badalado como o da Christian Dior? Só de estar em Paris já é surreal. Eu venho de uma pequena cidade do interior gaúcho, Santa Cruz do Sul. Ali, sempre morei no sítio com minha família. Frequentava a escola técnica agrícola. Estou modelando há pouco mais de um ano. Na atual temporada de alta-costura, cheguei sem ter nada certo. Minha agência me pôs no casting da Christian Dior. Quando eles avaliam as modelos, nem dá para saber se estão gostando ou não. Mas, como logo me deram uma roupa do desfile para experimentar, percebi que tinha dado certo.
O casting da Dior é muito diferente de um casting da São Paulo Fashion Week? É muito mais organizado. Mesmo assim, leva tempo. A seleção demorou quase três horas. Quando saí de lá, já era início de noite, e as luzes da Torre Eiffel estavam piscando.
Já havia usado alguma roupa da Dior? Nunca. É outro universo. Quando provei, me senti tão elegante.
Acredita que seu tipo físico, o fato de ser bem magra e alta, tenha ajudado na escolha? Não sei. Sempre fui magra e alta (1,81 metro e 51 quilos). Quando eu era pequena, diziam até que minha mãe não me dava o que comer. Nunca precisei fazer dieta. Acho que, se tivesse de me submeter a restrição alimentar, não seguiria nessa carreira.
Ser modelo, então, era um sonho de criança? Não. Eu nunca quis ser modelo. Tanto que, quando era criança, fui abordada por muitos olheiros, talvez porque vissem em mim o biotipo para a passarela. Mas os convites nunca me despertaram o desejo de me mudar de Santa Cruz do Sul. Sempre gostei de morar na roça. Meus pais são agricultores. Mas, quando veio a pandemia, tudo mudou. Ficamos muito isolados no campo. Então comecei a enviar fotos para as agências. Deu certo, e agora quero dar conforto e qualidade de vida para meus pais.
O mundo da moda, visto de fora, é uma guerra. Qual a sua impressão? De muito trabalho. Tive de estudar a história das grifes, porque não sabia nada. Depois de ser escolhida pela agência Joy, minha carreira deslanchou. Fui morar em São Paulo, em um apartamento que alugaram para mim, em 2022. Tinha completado 18 anos. Depois, passei quatro meses na China, em ritmo intenso. Lá, trabalha-se mais horas que no Brasil. Não existe nada mais relevante para os chineses do que o trabalho. Aprendi muito, e desejo mais. Vou ficar um tempo em Paris.
Ficou nervosa ao desfilar? Sim, queria fazer tudo o mais certo possível. Quando soube que a Rihanna estava na plateia, fiquei muito emocionada. Nunca achei que desfilaria para ela. Surreal, surreal.
Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880