Vinhas da ira: o novo capítulo da guerra entre Angelina Jolie e Brad Pitt
Agora, palco de renhida disputa da dupla é o exuberante castelo na França onde se casaram
Situado na paisagem colorida de lilás pelos campos de lavanda, na Provença, ao sul da França, o Château Miraval, uma nobre propriedade do século XVII, foi palco de um evento que sacudiu o mundo das celebridades uma década atrás. Em uma capela ao estilo romanesco, os atores Angelina Jolie e Brad Pitt oficializaram a união que se iniciara em 2005 e já havia frutificado em uma vasta família de seis filhos. Naquelas terras férteis, arrematada pelos dois por 28 milhões de dólares (atualmente avaliada em 162 milhões), eles iniciaram uma produção de vinhos rosés junto com os Perrins, clã que se notabilizou por prestigiados rótulos e com quem puseram de pé o cultivo das castas cinsault e syrah na bela topografia íngreme. A história começou a desandar dois anos após a troca de alianças, quando o casal veio aos holofotes anunciar a separação, a partir da qual se seguiu um enredo de intrigas e muita lavação de roupa suja de parte a parte, desembocando nos tribunais. E eis que o château volta à cena, numa batalha em que ela diz que ele, “uma criança petulante”, saqueou a vinícola, enquanto Pitt a classifica como “vingativa”, e daí para baixo.
Documentos trazidos recentemente à luz mergulham nas minúcias da guerra do outrora casal Brangelina. O primeiro capítulo da renhida disputa foi a decisão de Jolie de vender, em 2021, seu quinhão no castelo provençal. Teria ocorrido, segundo Pitt, apesar de, nos bons tempos, terem acertado que só selariam qualquer transação ali se ambos estivessem de acordo. E assim o enrosco foi parar no Tribunal Superior de Los Angeles, com Pitt acusando a ex-mulher de orquestrar uma “aquisição hostil” ao transferir sua metade para uma entidade controlada pelo oligarca russo Yuri Shefler. Enfurecido, o ator alega jamais ter sido consultado e põe na conta até o potencial de desvalorização que um negócio como esses pode trazer em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Ele pede que a venda seja declarada ilegal, o que lhe renderia indenização de valor não divulgado, mas sabidamente vultosa. Jolie, claro, contra-atacou, alegando que o ex-marido teria, sim, sido ouvido antes da venda e que impôs, para seguir com uma oferta, a condição de a ex-mulher silenciar para sempre sobre supostos maus-tratos a ela e à prole. Por danos morais, Jolie agora quer 250 milhões de dólares dele.
Quanto mais a trama do castelo é remexida, mais lama emerge. No processo, Jolie faz pouco caso de Pitt, que ventila aos quatro cantos que teria posto a mão na massa e “construído”, ele sozinho, o negócio de vinhos do então casal. A defesa crava nos autos que ele, na melhor hipótese, “visitou os vinhedos para admirar o trabalho dos franceses, que realmente fizeram a coisa ir adiante.” O ator ainda teria consumido milhões de dólares em projetos “fúteis”, como um novo estúdio de gravação e a reforma de uma piscina. Na colisão de versões, um acusa o outro de ter desembolsado mais para fazer a vinícola prosperar — outro infeliz capítulo de um divórcio em que nunca houve brecha para trégua. Eles ainda travam uma queda de braço pela custódia dos filhos, entre 15 e 21 anos, hoje compartilhada. Jolie prefere de outro jeito: quer que o pai se limite a visitas regulares.
Desde o marco zero do matrimônio desfeito, Jolie martela no ponto de que o ex-marido era sistematicamente agressivo com ela e os filhos, algo que associa ao alcoolismo. O caldo teria entornado de vez durante um voo da família da França a Los Angeles, a bordo de um jatinho particular. Jolie conta que, em meio a um acesso de fúria, o então cônjuge a agarrou pela cabeça e foi para cima de dois dos filhos, além de xingá-los e derramar cerveja de propósito sobre o grupo. Em uma cena detalhada no processo, Pitt teria ainda lançado Jolie contra a parede e socado o teto. Um dos filhos interveio e foi atingido no rosto pelo pai. O caso chegou a ser investigado pelo FBI, mas as autoridades não apresentaram queixa. Após o turbulento traslado, Pitt nunca mais voltou para casa.
Protagonistas de Sr. & Sra. Smith, filme de 2005 em que interpretaram agentes especiais com a missão de matar um ao outro, Jolie e Pitt engataram o romance a partir dali. Quando cada um foi para um lado, a mesma corte de Los Angeles incentivou que firmassem um acordo pela guarda da prole por meio de mediação, mas a fissura entre os dois só se aprofundava — em 2018, ela se pronunciou publicamente contra ele, acusando-o de não pagar pensão alimentícia por mais de um ano, o que incitou mais um duelo judicial.
Mesmo quando um juiz arbitrou a favor da guarda compartilhada das crianças, Jolie disse que o julgamento não havia sido justo, já que os filhos menores não puderam depor. Até hoje, tenta reverter o desfecho. Embora negue qualquer abuso físico, Pitt admitiu ter frequentado reuniões dos Alcoólicos Anônimos e se comprometeu a manter a sobriedade. Não foi o suficiente para aplacar a ira de Jolie, que aproveitou a deixa para retornar ao imbróglio do castelo. “Não posso mais ser proprietária de um negócio baseado em álcool”, disparou em carta aberta sobre a venda dos seus 50%. Só resta aguardar o próximo round.
Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2023, edição nº 2852