3 erros que fizeram a série ‘Os Anéis de Poder’ passar vergonha
Superprodução da Amazon, baseada no universo de ‘O Senhor dos Anéis’, prometeu mais do que cumpriu em sua primeira temporada
O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder chegou ao Prime Video, da Amazon, com toda a pompa e circunstância que uma superprodução merece. A expectativa alta, porém, não foi correspondida pela série de orçamento bilionário, que encerrou sua primeira temporada nesta sexta-feira, 14, com o lançamento do oitavo episódio. Apesar de ter sido um ponto alto da atração, com uma reviravolta curiosa, o capítulo não conseguiu aplacar todos os erros dos anteriores. Confira os principais deslizes da produção.
Bonitinho, mas sem conteúdo
Ao anunciar o orçamento de 1 bilhão de dólares para duas temporadas, a Amazon deixou claro que estava disposta a fazer da série uma produção digna do título épica. Mas a dinheirama foi usada com muito esmero na produção de cenários, efeitos e caracterização dos personagens, enquanto elementos básicos, como roteiro, montagem e edição deixaram a desejar. Foram oito horas de apresentação de personagens de forma superficial, em núcleos desconectados e com pouquíssimos confrontos – lembrando que a trilogia de filmes de Peter Jackson teve quase dez horas de duração e uma dose altíssima de cenas de ação que não afetou o envolvimento emocional do público com personagens-chave.
Galadriel, elfa ou adolescente birrenta?
Em uma trama com diversos núcleos, o protagonismo ficou dividido, mas um nome servia como elo entre as histórias – e também com os filmes: a elfa Galadriel, vivida por Morfydd Clark na série, e por Cate Blanchett na trilogia. Nos filmes, Galadriel é claramente alguém pouco confiável (ela mesma diz isso sobre si para Frodo, quando vê o cobiçado anel que ele carrega), e tem um jeito, por assim dizer, desequilibrado. Mesmo assim, a personagem tem lá seu charme. Na série, a elfa foi vertida em guerreira imbatível e numa espécie de entidade contra o mal. Porém, nos altos de seus 5.000 anos de idade (ou um pouco mais), Galadriel mais parecia uma adolescente birrenta, que só faz o que quer, e, quando mete os pés pelas mãos, se faz de coitada. Foi difícil gostar da personagem – se é que alguém conseguiu.
O grito das massas
Há um detalhe curioso em Anéis de Poder que diz muito sobre o clima da série. Quase todos os episódios possuem uma cena em comum, em núcleos distintos: um líder sério de voz empostada faz um discurso para um grupo de figurantes. Da juvenil Nori (Markella Kavenagh) entre os Pés-peludos, ao elfo Arondir (Ismael Cruz Córdova) e sua namorada humana Bronwyn (Nazanin Boniadi) antes do embate contra os Orcs, até a rainha Míriel (Cynthia Addai-Robinson) e seu braço direito Pharazôn (Trystan Gravelle) em Númenor, a série não economiza para mostrar que a massa está sempre pronta a ouvir e a obedecer com gritos de “yesss” logo após uma fala importante. O detalhe risível mostra o quão sem ritmo e desconectado da realidade é o roteiro. Primeiro porque esse tipo de cena deveria ser um momento de clímax, usado com parcimônia. Segundo que, mesmo a conta-gotas, o recurso virou raridade em produções atuais pelo simples fato de que os indivíduos são mais explorados do que os grupos — e os mais interessantes deles nunca são tão populares assim. Quem quiser comparar é só contar quantas vezes esse tipo de cena acontece em A Casa do Dragão, atualmente no ar na HBO: e a resposta é zero.