6 livros clássicos e com poucas páginas para ‘maratonar’
De Machado de Assis e Clarice Lispector a Kafka, confira uma seleção de belas (e curtas) obras literárias
É comum que grandes obras da literatura ostentem uma quantidade enorme de páginas – que o diga o calhamaço de mais de 1.000 páginas Guerra e Paz, do russo Liev Tolstói, ou as 1.400 de Os Miseráveis, aclamado romance do francês Victor Hugo. Mas nem todo clássico precisa ser gigantesco. A seguir, confira uma seleção de seis livros de autores renomados que, com tramas em torno de 100 páginas, oferecem uma leitura rápida e impactante.
Nome constante entre as apostas ao Nobel de Literatura, a francesa Annie Ernaux, 81 anos, narra neste breve livro de memórias, de 1983, sua infância a partir da vida do pai, um camponês da Normandia que, após trabalhar como operário, abre uma mercearia. Como comerciante, ele ajuda a filha a estudar e sair da região pobre onde vivem. Ao narrar uma história pessoal, Annie amplia o olhar para o social e fala da vida na França antes e depois das duas Guerras Mundiais.
Obra-prima de Franz Kafka (1883-1924), o livro conta a história do caixeiro-viajante Gregor Samsa, que, um belo dia, acorda transformado em um tenebroso inseto. Trancafiado no próprio quarto, Samsa aos poucos vai se metamorfoseando e perdendo suas características humanas, enquanto sua família, do lado de fora, acompanha sem querer ver a mudança do filho que é o provedor do lar.
Com uma prosa envolvente e sensual, a francesa Marguerite Duras narra neste livro de 1984 a história de seu primeiro romance, aos 15 anos, com um homem chinês mais velho enquanto ela e a família viviam no Vietnã, então colônia da França. O relacionamento é uma parte paralela desta novela de 128 páginas (na edição publicada pela Tusquets), em que ela descreve a difícil dinâmica familiar entre ela, a mãe complicada, um irmão agressivo e outro, sensível.
Última novela de Clarice Lispector (1920-1977), o breve relato acompanha a vida da jovem nordestina Macabéa, que aos 19 anos chega ao Rio de Janeiro. A jornada da moça absurdamente ingênua é narrada entre reflexões sobre vida e morte, a busca de sonhos e o desejo de pertencer. Ao longo de 90 páginas (na edição mais recente do livro pela Rocco), a trama encontra similaridades com a própria Clarice, que passou a infância no Nordeste antes de se mudar com a família para o Rio. A proximidade da morte também lhe rondava: ela morreu aos 56 anos, vítima de um câncer, em 1977, mesmo ano da publicação do livro.
Um dos personagens icônicos de Machado de Assis, Simão Bacamarte, o alienista do título, é um médico renomado no exterior e que volta ao Brasil, se instalando em sua terra-natal, Itaguaí. Dedicado à psiquiatria, ele abre o manicômio Casa Verde, onde interna pessoas com distúrbios mentais. O problema começa quando Bacamarte começa a internar pessoas saudáveis, mas que ele considera doentes. A novela de 1882 é banhada no humor ácido machadiano.
Um dos primeiros escritos de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), o livro de 1864, foi feito por ele em um momento crítico: com problemas financeiros, a mulher à beira da morte e ainda se recuperando do longo período como prisioneiro político na Sibéria. Na obra de tom poético, o russo divaga através do narrador, um funcionário de um edifício em São Petersburgo que vive no subsolo do prédio. O livro em tom de ensaio traz que é contra tudo e todos – e é contra até a ele próprio – é considerado um precursor das ideias de Freud sobre o inconsciente.