Na Semana da Moda de NY, as lantejoulas estão de volta
Enquanto marcas trocam EUA pela Europa, evento aposta na diversidade, na política e no retrô para se fazer ouvir
Tom Ford inaugurou nesta quinta-feira a New York Fashion Week com um desfile marcado pelo cintilar das lantejoulas dos anos 1990. Além da tendência retrô, o desfile foi uma forma de rebater as críticas de que a festa da moda nova-iorquina já não tem o brilho de antes.
Foi um começo atrevido para a Semana de Moda, em um momento em que muitos estilistas famosos trocam Nova York pela Europa e em que aumenta o debate sobre a relevância de se continuar com os desfiles na Grande Maçã (Big Apple) e se devem apresentar coleções para o calor ou para o frio. Grandes marcas se despediram de Nova York nesta edição: Proenza Schouler, Rodarte, Altuzarra e Thom Brown optaram por Paris e Tommy Hilfiger, por Londres. Com isso, especialistas preveem tempos de mudança e uma oportunidade para que marcas jovens, como Monse ou Sies Marjan, ganhem espaço.
Uma mudança já está em curso, e diz respeito ao calendário. Tradicionalmente, se apresenta uma coleção com muitos meses de antecedência. Assim, pelo calendário oficial da moda, este seria o momento de apresentar as roupas da temporada primavera/verão 2017-2018, mas Ralph Lauren e várias outras marcas estão pondo nas passarelas peças de outono e inverno, estações em que o hemisfério norte mergulha nos próximos meses. O modelo “veja agora, compre agora” é uma tentativa desesperada de atender ao mercado dos “millenials”, que buscam gratificação imediata no mundo das redes sociais, e para quem planejar guarda-roupa com seis meses de antecipação não faz o menor sentido.
Os números da New York Fashion Week, ao menos, ainda são vultosos. Mais de 230.000 pessoas devem invadir nas próximas duas semanas a capital cultural dos Estados Unidos para assistir a centenas de desfiles e festas, em um evento que contribui com quase 900 milhões de dólares anuais para a economia da cidade.
Lantejoulas na passarela
Ford, um texano de 56 anos que, além de estilista, também é diretor de cinema, transformou na noite de quarta-feira o Armory da Park Avenue de Manhattan em uma passarela íntima, com convidados especiais como Julianne Moore, Kim Kardashian, Cindy Crawford e Helena Christensen, na esperança de também rejuvenescer seu público. Ele colocou na passarela modelos em tops com lantejoulas e jaquetas de corte perfeito. As cores eram neutras, apesar de também haver peças de um rosa intenso. No conceito, um retorno ao espíritos de suas coleções criadas para a Gucci nos anos 1990, quando ganhou fama.
O show logo virou uma festa para o lançamento de sua nova fragrância, “Fucking Fabulous”, em grande estilo, com rapazes sem camisa e em shorts esportivos distribuindo hambúrgueres e coquetéis.
Charlottsville na passarela
Nova York sai na frente quando se trata de dar espaço a modelos plus size, um movimento encarnado pela top Ashley Graham. A tendência chega depois que várias marcas da moda em Paris, incluindo Christian Dior e Saint Laurent, prometeram deixar de usar modelos hipermagras em função de escândalos de anorexia e maus-tratos.
Os estilistas americanos também se mobilizam contra a presidência de Donald Trump. Alguns se negaram a vestir a primeira-dama, Melania, e, em fevereiro passado, a política inundou as passarelas.
Agora, o Conselho de Estilistas de Moda dos Estados Unidos se assocou à União pelas Liberdades Civis do País (ACLU, sigla em inglês) para fazer campanha contra o racismo depois da violenta manifestação com neonazistas e supremacistas brancos na cidade de Charlottsville, na Virgínia, no mês passado, que terminou com uma mulher morta e dezenas de feridos.
“Queremos estar na linha de frente, não nas margens, para lutar com coragem para proteger nossos apreciados direitos e liberdades, algo que demanda uma renovada urgência”, declarou o presidente do Conselho, Steven Kolb.
Uma fita azul está sendo distribuída aos participantes e ao público dos desfiles com esse objetivo.
Lista VIP
O rei da moda americana, Ralph Lauren, restringiu sua lista de convidados à garagem de sua casa em Bedford, Nova York, onde fará seu show, seguido por jantar formal onde o código de vestimenta só permitirá o preto e o branco.
Os seletos convidados terão de fazer uma pequena viagem — Bedford fica 64 km ao norte de Manhattan – para assistir ao espetáculo da marca que faz 50 anos em 2018.
Quanto à categoria de cantores-estilistas, Rihanna mostrará sua coleção Fenty Puma no domingo. A superestrela do rap Kanye West apresentará sua sexta coleção para a marca de roupa esportiva urbana Yeezy, mantida até agora sob segredo absoluto.
(Com agência France-Presse)